Um menino, seu mestre e a graça de Deus

Era uma quinta-feira calorenta na escola, mas, apesar disso, a fumaça das queimadas não tomava conta do céu como nos últimos dias, e todos se alegravam com isso. Para melhorar, a semana estava acabando e, junto com ela, as provas também se despediam. Hoje, o primeiro horário era prova de educação física, e eu, já quase adulta, aos 19 anos, nunca tinha visto, muito menos ouvido falar, de uma prova prática de educação física. Obviamente, quis participar e observar.

No cantinho da grade, eu olhava as crianças em sua aura natural, rindo e cochichando com seus colegas, animados para começar. Não pareciam abalados com o fato de que toda a turma os observaria durante a prova. Não demorou muito para o professor explicar, como se conseguisse ler exatamente o que se passava na minha mente: "Crianças, não é à toa que coloquei todos aqui para olharem uns aos outros. Isso é para tratar a humildade de vocês."

Quando a prova começou, notei que estavam realizando movimentos de vôlei e me diverti ao ver o jeito dos pequenos executando os exercícios. Seus olhinhos estavam concentrados; aquela galerinha estava dando o seu melhor. E, quando havia uma pequena exceção, o professor advertia: "Ei, dê o seu melhor, isso é o que importa." Foi emocionante observar a concentração deles, o olhar cheio de boa vontade fixado na bola de vôlei, e o sorriso de satisfação ao terminar. O suspiro profundo deles ecoava na quadra como um "Eu mandei bem". Naquele momento, dar o seu melhor era o que importava, algo interessante para mim, já no mundo adulto, no qual tenho que lidar com a realidade de que nem sempre isso é o suficiente

O que mais me marcou naquele dia foi um garotinho de cachos dourados e um olhar tão brilhante quanto bolinhas de gude. Sua maneira de entrar na quadra já era diferenciada: cabeça erguida, rosto sério, atenção voltada para o professor e para a bola que iria sacar. Respirou fundo, se ajeitou e lançou a bola, seguindo as orientações do professor e realizando os movimentos e saques.

No final de cada avaliação, o professor dava uma batida na mão de cada criança e oferecia um feedback. Com o menino não foi diferente. O professor segurou sua mão, olhou para ele com aquele olhar que parece penetrar a alma, enxergando o ser. Um olhar que dificilmente se encontra fora de casa, cheio de amor, que diz "Eu acredito em você." Uau! Esse olhar nos faz sentir que podemos mudar o mundo. E, assim, o professor disse: "Excelente! Mandou muito bem." Acredito que ele tenha dito mais algumas coisas, mas eu estava longe demais para ouvir. Vi o menino sair com a cabeça erguida, vitorioso, e com um sorriso no rosto. Ele bateu na mão de um amigo, que o parabenizou. No mesmo instante, ele se sentou em um canto da parede, abaixou a cabeça e colocou as mãos sobre os olhinhos, ficando assim por um longo tempo.

Mais tarde, percebendo que ele ainda estava na mesma posição, uma professora preocupada perguntou por que ele chorava. Ele disse que não estava chorando, estava orando, com um belo sorriso de criança, cheio de dentinhos separados.

Aquilo tocou meu coração profundamente, e eu quis chorar. Aquele menino, após sua prova na qual foi muito bem, a primeira coisa que quis fazer foi falar com seu Pai Altíssimo. Uma brisa leve soprou em meu rosto naquele dia tão quente, enquanto eu pensava em como é especial uma escola Cristocêntrica, onde coisas assim são comuns e cotidianas. Apesar de ouvir tantas críticas na faculdade, vejo, em primeira mão, a construção não apenas de crianças inteligentes e intelectuais, mas também de crianças sábias, que sabem que precisam do Senhor e que a glória pertence apenas a Ele. Crianças que são ensinadas sobre virtudes, sobre humildade e sobre o poderoso Criador de todas as coisas. E isto é lindo: crianças sendo instruídas a cuidar do corpo, mente, alma e espírito. Um fato incontestável: esse menino deu uma lição a todos.