EU, VENDEDORA
Trabalhar das nove da manhã às sete da noite, com 1 hora de almoço e 15 de café lá por volta das quatro da tarde não era ruim. Emprego normal que me ajudava pagar as contas, comprar alguma roupa e não me descuidar da vaidade. Mas o que parecia normal começou depois de alguns meses se tornar maçante principalmente quando eu era obrigada a cobrir falta das colegas. Houve uma época que as quatro meninas que trabalhavam na loja comigo, ficaram gravidas. Não ao mesmo tempo, lógico mas, foi tipo uma epidemia: Uma atrás da outra! Até eu que nem namorado tinha comecei a me preocupar. Só falta eu engravidar do “Pai, filho e Espírito Santo” porque não é possível isso que está acontecendo nessa loja!
E dá-lhe trabalho nas minhas costas! O gerente aproveitava e eu, iria falar o que? Não estava disposta a gastar salto atrás de outro emprego qual eu teria que começar do zero a fazer as mesmas coisas que haviam me custado meses a aprender.
Meus olhos pareciam ter areia, eu piscava e sentia as pálpebras ressecadas tamanho o cansaço. Repetidas vezes acontecia e principalmente na segunda-feira, faltando cinco minutos para eu ir embora e chegava um cliente. Sempre acontecia aqueles de última hora que já chegavam gritando na porta:
__Já vão fechar?
O que será que se passava na cabeça daquelas pessoas? A resposta estava sempre na ponta da minha língua” Não, vamos abrir pois somos a única loja que fica a madrugada de portas abertas te esperando” mas eu me continha!
__É que eu quero uma lembrancinha, algo bem barato pra presente. Vocês têm?
Sei que muitos irão me julgar e dizer que eu não gostava do meu trabalho mas, não era isso! O fato era que depois de despencar as gôndolas ( sim a loja que eu trabalhava era antiga e possuía aquelas colmeias quase até o teto abarrotadas de roupas dobradas cada uma em seus devidos saquinhos plásticos ) Eram poucas as araras e então os infelizes queriam ver tudo! Depois que eu mostrava tudo, subia e descia as escadas do estoque por pelo menos duas vezes eles pareciam não estarem satisfeitos. Eu ainda ouvia: “ Não tem menor?” “Não têm maior? “Só têm essas cores?” “Vai chegar mais, quando?”
Confesso que por várias vezes eu chorava a seco, engolindo a vontade de mandar aquela pessoa catar coquinho! Mas, quando eu olhava a cara do meu gerente me lançando um olhar que eu já conhecia, eu me continha.
Enquanto a “miseravi” decidia se levava a peça mais barata da loja ou não eu lançava meu rosto para a metade da porta de ferro qual eu podia ver o ônibus passando. Tinha certeza que era o meu:
__Sua...sua....perdi o ônibus! Por sua causa! Meus pés estão latejando de dor e cansaço! Não tem dinheiro, vaza! Preciso esperar o outro ônibus que deve demorar uma eternidade! Porque essas pessoas não vão no brechó?
Depois a pessoa percebia meu desconforto e, acabava levando a peça da promoção que não custava mais que cinco reais mas, com a maior cara de pau ainda pedia:
__Embrulha pra presente?
Andreia Caires
( Fragmentos de uma borboleta e outras crônicas )