Derradeiro Conflito
Desde os bancos (hoje cadeiras, ou plataformas) escolares, que as tríades instigam. A primeira com geometria, o triângulo, quando o ensinam, como figura indeformável. Depois, quando nas aulas de catecismo, Pai Filho e Espírito Santo, além de instigante, em muitos surge a questão: porque não ser Pai, Mãe e Filho?
Mais tarde, quem se interessa sobre religiões e religião, toma conhecimento dessa figura ternária, também, tríade sagrada em outras religiões: hinduísmo, Brahma, Vishnu e Shiva; budismo, Tríade Amida – plenitude, perdão e sabedoria - Buda, Kuan Yn (à direita) e Seichi (á esquerda); Incas, Inti (Sol), Pachamama (Terra) e Keel (Lua); De alguns povos Indígenas: Tupâ (Sol), Jaci (Lua) e Guaraci (Filho de Tupã); Egípcios, Hórus, Isis e Osiris...
O conflito em questão envolve a tríade relativa ao homem: Corpo (peso, altura, massa muscular, tanquinho, violão, gordo, magro, ágil, trôpego...) por sinal, também dividido em três: cabeça, tronco e membros; Alma, ou Personalidade que, também se pode dividir em três: sensitividade, emotividade, e racionalidade (de um dos quatro temperamentos, de um dos doze signos, bom, mau, bem, ou mal humorado, alegre, triste, tímido, expansivo, equilibrado, neurótico, sensível, frio, calculista, inteligente, intuitivo...); e Individualidade que, também, se pode dividir em três: inspiração, intuição, e iluminação (ou espírito, ou consciência), um tanto quanto misterioso, pouco conhecido, que o sentimos como o mais próximo desse também, misterioso, “vigilante silencioso”, que se percebe como observador onisciente de cada indivíduo. A este permanentemente vigilante aos: movimentos, sentidos, sentimentos, pensamentos e, até mesmo, aos “estalos mentais criativos”.
Num desespero agressivo, a Alma, se dirige ao Corpo e, como numa lista de feira, derrama rosário de lamentações. Corpo, enquanto tu envelheceste, te tornaste trôpego, claudicante, incapaz de refletires energia, vida e movimentos de outrora, conservei-me jovem, refletindo vida e muita energia.
Tragicamente, tu, Corpo, não respondes mais a nenhum dos anseios desta Alma jovem. Quero aventuras de verão, amores de primavera, loucuras de outono e muito vinho, música e paixões hibernadas, a romper o silêncio do inverno.
Simplesmente tu, Corpo, te tornaste gaiola para esta Alma, pássaro desejoso para continuar bater asas e voar. Te tornaste carcereiro desta Alma, aprisionada à tua rotina em prisão domiciliar, com eventuais saídas a médicos, feira, supermercados...Saídas, que interrompem a limpeza da casa, ou o preparo das refeições, conversas virtuais com o celular, inércia com a TV, pequenos cochilos...
Com tons de decepção, responde o Corpo, com mágoa e indignação: tu, Alma, não acompanhaste a lei natural da vida. Contrariando a natureza, não te permitiste a transformação com o tempo. Se não tivesses te apegado tanto e te auto aprisionado a essa tua fantasiosa juventude, viverias o mesmo tempo que vivo. Certamente, não viverias este dilema. Estaríamos dançando a vida em harmonia.
Sinto te dizer, Corpo, que um dia foste asas para meus voos e realizaste todos meus desejos em qualquer das estações, que somente com tua morte, o que espero que seja em muito breve, voltarei a ser livre.
Foi quando aquele misterioso e silencioso “vigilante”, que se acredita ser o representante da Individualidade (Espírito, Consciência), quiçá a própria, na sua função de “vigilância, sem poder intervir, nem mesmo expressar-se, ponderou, num sábio silêncio: “mal sabe a Alma, que a morte do Corpo, também, é o início dum viver seu (desta feita, como veículo realizador, como se Corpo fosse) e de uma futura e sua morte.
E esse mistério vigilante continuou, em sua ponderação: “espero que quando se faça, o que ela tanto deseja, a morte do Corpo, não continue tão apegada à realização desses desejos, por meio do Corpo e, em vez de libertar-se para a outra vida, fique auto aprisionada à realização de exageros passionais, tornando-se mais uma de tantas almas penadas, reconhecidas por aqueles, que fazem conscientes as viagens durante o sono, como obsessores. Obsessores - almas penadas, facilmente encontrados acoplados a corpos vivos, quando na realização de vícios e prazeres báquicos”.
E, Alma e Corpo, continuaram a dançar a vida em ritmos diferentes, numa total desarmonia, até que a morte, compadecida, os separe: o Corpo para devolver ao universo os átomos (agora mais experientes), que lhe haviam sido emprestados; e a Alma para, agora como veículo, como o Corpo, que acabara de se divorciar, para viver nova vida e uma futura e correspondente morte.
Se, depois desse divórcio, a Alma, não se auto aprisionou como “alma penada”, somente aquele vigilante poderia responder, mas como sua função exige silêncio, impedimento de manifestar-se, fica-se sem “matar a curiosidade”.
Entretanto, a morte, certamente, resolveu o derradeiro conflito, em vida, entre a Alma e o Corpo.