Arte e suor

         O que pra mim é esta arte incontida que tanto tento expor?

     É uma ansiedade tremenda de aprovação, discussão, recomendação, crítica. O esboço do esforço de uma alma que sente necessidade tremenda, intensa de ser exibida em devaneios e sonhos intensos, tensos. Alguns, quase todos na verdade, ainda ocultos.

     É o suor que é pago em sua exibição, exaltação, divulgação que muitas das vezes não é valorizado. Não quero dizer que a minha forma de arte mereça mais do que as outras. Acontece que a solidão de alguém que escreve sem ser lido é cruel, feia e triste.

     Reconhecimento?

     Acho que não é isso que eu preciso. Queria que apenas observassem as formas dos monstros dos sonhos que tento esboçar e sentissem o medo comigo. Ou então a forma dos anjos dos pesadelos e com estes orassem por absolvição da minha alma. Se reconhecido fosse, agradeceria também, de toda alma e coração, mas se não, se comigo apenas estivessem, no sonho ou no pesadelo, já de bom tamanho estaria nesse devaneio deslumbrante ao qual me lanço feito um louco frenético, que não sabe fazer outra coisa além de escrever.

     Igual situação vivem os meus confrades e confreiras de ideal. Alguns com mais loucuras, outros menos, mas todos entregues em algum grau a este narcisismo inviolável. Um verdadeiro litígio contra si próprio que, quando começou a escrever, era apenas para si próprio, talvez, para os mais íntimos. Mas agora sofre da angustiante necessidade de mais e mais leitores, ledores, admiradores, haters, críticos, adversários, amigos, amores. Rancores.

     Dores.

     Eu só queria me esvaziar dessa prosa triste em que me meti esses tempos. Mal suspeitava eu que seria tão dolorosa, incondicionalmente dolorosa. Enfim, é apenas o ego se partindo em dois: o egoísmo e o orgulho prepotente. O mais, é um pedido, na verdade, uma imploração das mais doídas e doidas que eu poderia fazer, ou não:

     Leiam, leiam muito, muito mais, formem ideias novas, novos ideais, novos amigos livros, artistas novos, desconhecidos, tímidos, ingratos como eu. Satisfaçam, por um mísero segundo a fome do seu cérebro por novas informações. E os nossos egos criadores daquilo que eles mais gostam, um simples: ei li. Não precisa dizer se gostou, se desgostou, se amou, se odiou. Apenas leiam e formem suas opiniões e por favor, se possível for, escrevam também, por que somos ledores e leitores também, necessitamos alimentar os nossos cérebros também para podermos continuar sonhando, criando, poetizando, vivendo, amando, odiando, orando, construindo um mundo melhor.

     E talvez nesse mundo melhor haja espaço para mais ledores, leitores, escritores, criadores, sonhadores, enfim, o ciclo é infinito. E o meu desabafo termina aqui.

Josemar Fonseca
Enviado por Josemar Fonseca em 20/09/2024
Código do texto: T8155992
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