Cartas

 

 

Amanheci saudosista como nunca, antes de sair para o meu trabalho... Cedinho, reguei as plantas, escutei os passarinhos, ah esse exultantes canto!... isso me devolve um ânimo, e gosto pela vida.  Ainda tive tempo para tomar meu café calmamente, sentada respirando fundo, observando a linda manhã que chegava derramando minhas saudades, dando uma reviravolta gostosa nos meus pensamentos e me reportei para lugares distantes, em tempos que eu corria até o portão, quando ouvia o grito do carteiro, ansiosa por uma carta, sedenta de notícias... mesmo que fosse de um amor somente da minha imaginação, adolescente cheia de sonhos. Lembro que nem caixa de correio a gente tinha.

 

Depois pensei, como é gostoso abrir vez por outra os arquivos gravados em nossas almas, a vida anda tão artificial, tão moderna que retira do nosso dia-a-dia as coisas simples, pequenos gestos de delicadeza também de sensibilidade nas palavras, sinto falta disso, desse despertar de sentimentos, coisas que não deixam a alma endurecer. Cheguei a conclusão de que o tempo passou, mas não matou a adolescente que um dia eu fui.

 

Outro dia encontrei o escrevedor das cartas tão esperadas do passado tão distante. Pois acredite, que depois de tantos anos ele voltou, quão recíproca foi a surpresa, ambos nos alegramos, conversamos por alguns momentos ali em frente a casa que foi da mãe dele, nos fizemos algumas perguntas, atentos às respostas, nos olhamos e não encontramos mais nada em nosso olhar, a não ser rastros de um tempo morto, depois seguimos nossos caminhos opostos para sempre. Antes de nos despedirmos, ele me disse: _ Saiba que eu ainda amo você, eu lhe dei um sorriso, sim, o mais sincero e segui, e lhe respondi que também ainda o amava. E segui pensando que o destino tinha que ser assim, o nosso destino tinha que ser do jeito que foi e que é, e assim será.

 

Liduina do Nascimento
Enviado por Liduina do Nascimento em 20/09/2024
Código do texto: T8155833
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