A Tarde de Inverno
Recordo-me de uma tarde de inverno,
quando o céu cinza parecia compor a nossa história.
Ela guardou uma fotografia no bolso do meu casaco,
um abrigo grande o suficiente para cobrir os dois,
como se o mundo lá fora não existisse,
como se fôssemos apenas nós e o calor daquela conexão.
Era assim que fazíamos:
ela enfiava o braço direito, eu vestia o esquerdo,
caminhando juntos,
abraçados em um mesmo blusão,
um jogo de passos que, a princípio, se estranhavam,
mas, com o tempo,
encontramos um ritmo, uma dança peculiar,
e seguimos em frente,
sem tropeços, apenas sorrisos.
Era eu e o “meu amor, minha vida”,
naquela tarde de sábado,
cheia de promessas e momentos simples,
mas carregados de significado.
Voltávamos de uma aula extra na faculdade,
cada passo, uma conversa; cada olhar, uma confissão.
A mãe dela aguardava ansiosa,
exigindo minha presença para o café da tarde,
um ritual familiar que eu já considerava parte de mim.
O aroma do café e o calor das risadas
se misturavam ao frio da estação,
enquanto nós, encolhidos no casaco,
mantínhamos nosso mundo aquecido.
A fotografia que ela guardou, um fragmento do passado,
refletia o presente que vivíamos:
caminhando lado a lado,
celebrando um amor que brotava nas pequenas coisas.
Mas como o inverno se transforma na primavera,
as estações mudaram, e também nós.
O tempo, que antes nos unia, passou a nos distanciar,
e, um tempo depois, cada um seguiu seu caminho.
As promessas que fazíamos,
os sorrisos trocados, tudo ficou na memória,
como ecos de uma tarde de inverno,
que, afinal, deu em nada.
E assim, fomos em busca de novos destinos,
cada um para um lado,
carregando as lembranças de um amor que não se concretizou.