Entre começos e fins
Cada ser é um universo único e incomparável na jornada que é a vida. Contudo, tudo que tem início um dia termina. Alguns buscam organizar seu percurso, traçando metas e passos, enquanto outros agem por impulso, criando situações inesperadas. Tudo bem, cada um vive conforme acredita. Embora tenhamos plena consciência de que tudo o que nasce um dia morre, seguimos nossas vidas como se fôssemos imortais. E isso não é um erro; afinal, cada universo segue sua própria órbita, cabendo a ele decidir como girar. A única certeza comum a todos os universos é que tudo o que começa, um dia finda.
Aprendi que um corpo não pode ocupar dois lugares distintos no espaço ao mesmo tempo. No entanto, rompi com essa ideia ao me encontrar entre duas realidades opostas. No mesmo corredor, a penumbra da morte e o sopro da vida se manifestavam numa reverberação inimaginável.
O fim estava próximo. Uma senhora agonizava em seu leito de morte. Seu corpo carregava as marcas dos remédios intravenosos, e as sondas, visivelmente desconfortáveis, me afligiam. Ela havia sido trazida para aquele leito porque nada mais havia a ser feito. Infelizmente, é assim: tudo o que começa, um dia finda.
Um sentimento incomum tomou conta de mim. Ela era mãe, avó, bisavó, com uma grande família. Meus pensamentos foram interrompidos por um som diferente, um ronco abafado. A neta, em prantos, presenciava o momento. Alguns segundos sem respirar... e então ela retorna. A neta, aliviada, enxuga suas lágrimas. A esperança renasce em seu rosto e em seu coração; para ela, ainda havia um fio de esperança.
Durante o breve silêncio entre as respirações irregulares da senhora, escuto barulhos vindos do corredor. Uma mulher estava em trabalho de parto. Seus gritos intensificavam-se, ela lutava para trazer uma nova vida ao mundo. Conecto-me àquela cena, ansiosa pelo primeiro choro da criança. No mesmo instante, percebo algo inesperado: as duas linhas, tão distantes, se cruzaram.
Uma mistura de sensações tomou conta de mim. Alegria, por ouvir o som da vida triunfando em uma batalha árdua, recompensada com um prêmio incomparável; e tristeza, ao testemunhar a vida abandonando seu corpo hospedeiro. O recém-nascido tinha toda uma vida pela frente, mas o tempo da senhora havia chegado ao fim. Porque, afinal, tudo o que começa um dia finda.