Correr, correr
Plagiando a música infantil, “Comer, comer”, vejam os versos que fiz para um corredor, amigo meu.
Quero acordar bem cedinho
Fazer delicioso lanchinho
Figo, kiwi ou picolé
Quero também melancia
Barras de muita energia
Banana, morango e filé
Quero comida da horta
E uma fatia de torta
Ameixa seca e pipoca
Eu gosto mais de torrada
E de alface bem cortada
Omelete de tapioca.
Correr correr, correr correr
É o melhor para poder vencer
Correr correr, correr correr
É o melhor para poder vencer
Quero almoçar lentilha
Feijão e frango grelhado
E também algum pescado
Bife, arroz e ervilha
Repolho arroxeado
E brócolis refogado
Se eu não corro feito animal
Quatro vezes diariamente
Fico triste e até me calo
Fica baixo meu astral
Quatro vezes diariamente
Nem abro a boca, nem falo
Correr correr, correr correr
É o melhor para poder vencer
Correr correr, correr correr
É o melhor para poder vencer
Esse meu amigo era corredor contumaz. Representava entidades nas quais sequer havia colocado os pés, tais como a UFSC e o IEEE, ambas por Florianópolis, terra que ama.
Estampava no peito também a corporação da Polícia Militar de Santa Catarina e o brasão do Clube 1º de Maio. Nereu desempenhava muito bem o papel também para a instituição da qual fazia parte, como a Celesc nos jogos do Sesi. Nessa empresa, onde trabalhou até se aposentar, participava dos jogos no final de semana que correspondia ao dia do eletricitário.
Como nos jogos não havia a modalidade de corrida, ele se inscrevia no futebol, esporte com o qual até tinha um pouco de habilidade. Competiu também nos Jogos Abertos representando o município que tanto ama, São José.
Mas nem tudo são flores nos caminhos de um apaixonado pela corrida. Vocês acham que é barato comer carne assada, abóbora cozida, salada de rúcula com berinjela, salada de agrião com beterraba crua ralada, salada de alface crespa com tomate cereja, frango assado sem pele, feijão branco, mandioca, vagem cozida, atum light ou macarrão integral ao sugo?
Esses são alguns dos produtos que ele utiliza como fonte de proteína para ajudar na recuperação muscular e para repor a energia depois de uma corrida. Sem mencionar as vitaminas de reposição alimentar, caríssimas.
Nereu foi cansando, não de correr, mas por não conseguir patrocínio e também com a falta de incentivos de algumas pessoas de quem ele esperava apoio. Quaisquer palavras vindas desses seus simpatizantes faria com que ele não desistisse do que mais amava fazer. Ainda gastava com o material esportivo que está pela hora da morte. Um bom tênis precisa somar durabilidade e conforto, a entressola deve ser de EVA e a sola em borracha e, de preferência, com amortecimento em gel.
Isso tudo citando apenas o calçado, sem considerar o restante dos apetrechos de um bom corredor.
Uma pessoa o fez voltar a treinar: Taís, a instrutora de Pilates. Ela também sentia falta de alguém para ajudá-la a entrar em forma, pois considerava que somente os exercícios de Pilates não forneciam tudo o que almejava, ter uma vida bem mais saudável. Ela procurava competições no estado e informava para ele. Ambos foram se empolgando e, devagar, iniciaram os treinos.
Aos poucos foram aumentando o ritmo e quando consideraram que estavam prontos, se inscreveram e competiram. A escolha recaiu sobre o Circuito das Estações – Etapa Inverno, na capital catarinense.
Continuam os treinamentos para a etapa Primavera e prometem não parar mais.
Nereu publicou nas mídias sociais: “Meus amigos, hoje, após 32 anos, voltei a participar de competições no esporte que sempre gostei, corridas. Agora é só para a frente. SAÚDE.”
Para a Taís, o agradecimento foi pessoal, sincero e, segundo ela, prazeroso.
Já falei para ele:
- Está na hora de participares da Corrida de São Silvelho, em Laguna. A idade é de 50 a 69 anos, com direito a medalha, acima e abaixo desta idade participam somente para descontrair. E se esperares mais, perdes o bonde. Ou seria a competição?
Aroldo Arão de Medeiros
02/08/2022