A crônica tímida
Estilo? O estilo é o homem, já disse o conde de Buffon, se é que foi ele mesmo quem disse isso. Qual é o meu estilo? Não falo das minhas preferências pessoais, das roupas que uso, se gosto de canetas-tinteiro ou esferográficas, se prefiro o estilo arquitetônico neoclássico, gótico ou barroco, refiro-me ao estilo das minhas crônicas.
Será que elas têm estilo próprio? Ou seguem a moda, acompanham as tendências, o movimento das ondas? O estilo, se existe, está na maneira de se comportar, de falar, de escrever. Então todo mundo tem estilo, mesmo que a ausência de estilo seja em si um estilo. Não é o caso das minhas crônicas. Se elas têm, qual é?
Minhas crônicas são construídas como os textos da segunda metade do século XX, afinal eu sou produto desse século; e os estilos atuais me parece que ainda estão em construção, algo assim. Minhas crônicas refletem minhas preocupações, que são as mesmas do final do século passado: como a informatização do mundo nos afeta? Vamos destruir as florestas? O que estamos fazendo com as cidades? De fato, cada vez mais se produz aridez, perdemos espaços para intervenções agressivas, que deixam o solo urbano impermeabilizado. Alguns admitem que as matas e os parques se queimem, ignoram a diminuição das áreas verdes, a poluição do ar e das águas. Qual será o futuro das relações humanas num mundo cada vez mais exaurido e robotizado? Vai dizer que você nunca se preocupou com isso?
Podemos deixar isso de lado e escrever sobre efemérides, sobre a política — que sempre rende boas crônicas —, sobre como nos comportamos no cinema. Ah, não vamos mais ao cinema. Como nos alimentamos, sobre o fast-food, o domínio do delivery, os alimentos ultraprocessados, e por aí afora. Podemos falar dos pets e de como conquistam cada vez mais espaço em nossas vidas. Um dia, vão nos dominar, vamos fazer tudo o que eles quiserem. Deixa pra lá! Certamente não estarei mais aqui.
Prefiro assuntos mais amenos, mas não tenho medo de meter o bedelho nas questões da língua, da gramática, da linguística. Sobre isso pouco entendo, num sentido teórico, mas, afinal, é a minha língua. E se o povo quiser inventar palavras? E se quiserem aportuguesar termos estrangeiros? Nada os impedirá. Vamos em frente!
Eu sigo vários caminhos. Gosto de pensar em crônicas singelas, tranquilas, uma conversa descompromissada com quem as lê. Sei que, às vezes, uso ironias, essa figura de linguagem que deveria ser mais cultivada na atualidade, vocês hão de me perdoar e compreender. A crítica é cada vez mais necessária nesses tempos de ódio e de bipolarização absurda.
Reconheço que algumas crônicas minhas são tímidas, eu poderia ser mais incisivo ou mordaz. Não concordo com certas besteiras que vicejam aqui e ali, mas sigo num ritmo mais suave, devagar e sempre. Boa leitura!