O Preço do Relógio
Nos anos, do meu avô, João Lobato, com os seus setenta e poucos anos. Lá pelas 22h daquela segunda-feira saiu teimosamente da casa da sua filha, na 14 de março e seguiu a parada mais próxima, cujas mangueiras a frente do colégio Paraense faziam as vezes da infraestrutura coberta, sem a devida iluminação, que como sempre na maiorias das capitais, as prefeituras só enxergam no período de eleição.
Uma hora depois o Sacramenta Nazaré, ônibus de Belem do Pará fez as honras de ser o último carro daquele dia.
Estudantes, trabalhadores e o seu João Lobato embarcaram no lotação, que o cobrador a custo tentava organizar pedindo pra todos, que estavam atrás passarem na roleta e fossem pra frente pra ir desafogando a passagem.
Naquela noite a chuva começava a cair fina, o frio já avisava os corpos da mudança de temperatura, quando João assentou num dos assentos a janela ao lado uma das moças do colégio, que com o todo respeito, talvez pelos seus cabelos grisalios ou os seus olhos azuis, resolveu puxar conversa e disse:
- Boa noite jovem senhor.
Já serelepe, ele respeitosamente respondeu:
- Boa noite moça. Em que lhe posso ser útil. E parafraseou em inglês, que era fluente:
Hi, good night, my friend! My name John, so what’s your name?
Ela rindo em português celebrou:
- Olha ele, fala em inglês.
Quando ela assim disse, outras estudantes se aproximaram e ficaram a perguntar, várias palavras na língua estrangeira, que ele devidamente pajeado, não se obstava de falar.
E conversando ele se mostrando versátil no domínio daquela língua. A ponto de fazê-lo com todo o entusiasmo. Causava imenso furor naquele grupo de jovens estudantes e de alguns trabalhadores, haja vista naquela época aquela língua ser pouco difundida.
Isso fazia de quem bem falasse essa língua virasse celebridade.
Ao aproximar de sua parada, ele começou a se despedir e as meninas, como forna de agrado resolveram pagar-lhe a passagem.
Assim sendo, ele todo garboso e risonho agradeceu e foi descendo. Se sentindo o bamba da cidade, quando, não se sabe se pelos degraus envelhecidos do ônibus, ou pela falta de atenção, visto que estava empolgado foi ao chão.
Nessa hora o seu relógio de bolso, moda daquele tempo, sobressaiu do terno a ponto de se espatifar. Quando ele, apesar da idade usou de agilidade pra recuperar o relógio, evitando o desastre, caindo de rosto na calçada, ralando todo o braço e o joelho.
Tendo como saldo negativo, de óculos quebrado, a oito pontos na testa e três nos lábios. Quando socorrido pelos passageiros do ônibus e perguntado o porquê dele ter se exposto, a ponto de sair no prejuízo e quase morrido, ele esclareceu:
- Ora...o preço do relógio.