Entre Sem Bater - O Antipetismo desde 1980

Paulo Maluf disse:

"... se você tiver uma fazenda e, na hora da colheita, tiver que optar entre um administrador petista e uma nuvem de gafanhotos, fique com os gafanhotos ..."(1)

Maluf era, sem dúvida, um perdedor, sob a ótica de eleições majoritárias. Por outro lado, era daqueles políticos que enganam todos os eleitores com seus discursos proselitistas. É provável que, sem Maluf e os seus malufistas, nunca existiria o antipetismo como é atualmente. Com toda a certeza, não estou dizendo que o antipetismo tem origem na história do político Paulo Maluf. Entretanto, uma frase dele exprime todo um sentimento do maior partido político do Brasil, o PAB(*). É um pleonasmo redundante adjetivar o malufismo como conservadorismo mentiroso. Contudo, os seguidores das teorias e frases do Maluf são piores do que o próprio, e a maioria são pobres de espírito.

COMUNISMO

Existe uma frase de George Santayana que devemos utilizar para a introdução do tema antipetismo desde 1980:

"Aqueles que não conseguem se lembrar do passado estão condenados a repeti-lo.".

É provável que muitos leitores deste texto já ouviram esta frase ou algumas variações, inclusive com atribuição a outros autores. De fato, muita gente, na política produz paráfrases para relacionar a importância, ou não, de se conhecer a história de cada povo. Contudo, aqueles que querem esconder a história agora contam com as fake news e outras artimanhas.

Assim sendo, o antipetismo nada mais é do que a continuação das ações que os conservadores e as oligarquias fazem há muito tempo. Surpreendentemente, estes movimentos conservadores, normalmente de extrema-direita, ganharam força no Século XX. Notadamente, no período das Grandes Guerras, e após os movimentos abolicionistas e reformistas da segunda metade do Século XIX.

O avanço do comunismo(2), e outros movimentos revolucionários como direitos civis, das mulheres e abolicionismo, foi o estopim. Desta forma, movimentos segregacionistas, preconceitos, caça aos comunistas e outros misturaram política e religião. Desse modo, perdeu-se completamente, em todas as sociedades, o sentido e propósitos do secularismo(3).

Uma das paráfrases que aplica-se ao Brasil, ontem, hoje e sempre, representa a cultura que herdamos da mixórdia de colonizadores.

"Um povo que não conhece seu passado, que não compreende suas referências e suas origens, perde a chance de reparar seus erros históricos."

Enfim, independente de quem foi o autor desta paráfrase, ao falarmos do antipetismo, estamos falando de uma ignorância histórica plena.

O ANTIPETISMO

O antipetismo atingiu um grau de ignorância que supera quaisquer limites de sanidade e capacidade de entender a história.

Por exemplo, um energúmeno como Danilo Gentili ganha muito dinheiro dos seus seguidores e das oligarquias, das quais ele é um serviçal. Ele representa a exceção que os antipetistas demonstram como meritocracia e bobagens afins. Em determinado momento da história política recente este influenciador falou de Paulo Freire. Ganhou aplausos da patuleia que não sabe nem quem foi o educador brasileiro. Pouco depois da manifestação do Gentili, ele foi a uma entrevista na qual o entrevistador perguntou se ele conhecia Paulo Freire.

A resposta foi sincera e direta: - "Não conheço o trabalho dele, mas não gosto de quem defende o trabalho dele.".

A argumentação do entrevistador (Paulo Freire ser um honorável educador brasileiro para o mundo) não serviu para o rancor de Gentili. Em outras palavras, o ignóbil animador de rede social aderiu ao antipetismo, simples assim, junto aos idiotas do MBL. E aqueles que caíram na lábia de Gentili e outros como Reinaldo Azevedo, não se enganem, são exemplos de mau caráter e má educação.

FARSANTES DESDE 1889

Desse modo, podemos dizer que estes farsantes estão aí desde que a República se instaurou em Terra Brasilis. São os mesmos que a cada eleição dizem que não são políticos profissionais, como, por exemplo, Zema, Kalil, Ratinho. Sobem nos palanques virtuais e dizem não ter "político de estimação", mas sempre os tiveram. Sem dúvida, de Maluf a Bolsonaro, eleitores que sempre votaram num ou noutro, continuarão na linha do conservadorismo e ignorância.

Está certo um professor que disse: "... o antipetismo em Terra Brasilis é uma cópia com péssima adaptação de roteiro da política dos EUA ...". Em outras palavras, é como se fosse um roteiro trash de de uma produção de Hollywood sobre o  Comando de Caça aos Comunistas (CCC). Surpreendentemente, "nosso" roteiro adaptado incluiu negros, homossexuais, mulheres e outros analfabetos funcionais e digitais.

Enfim, num país em que instala-se uma cultura de mais armas e menos livros, não pode dar nada certo, como previu Tim Maia. Os farsantes estão vencendo e não gostam de história verdadeira, preferem versões e narrativas falsas.

As características do antipetismo, atravessa diferentes fases da recente história da redemocratização política brasileira. A oposição ao PT, alimenta-se de uma convergência de interesses, e transformou o antipetismo em uma força política significativa. Nesse ínterim, especialmente em períodos em que o partido esteve e não esteve no poder, essa oposição ofereceu diferentes faces para a sociedade.

PT COMO OPOSIÇÃO (1980 - 2002)

Durante os anos iniciais do PT, a oposição ao partido crescia, por suas fortes ligações com as origens e ideologias da sua criação. Sindicalistas, intelectuais e militantes de esquerda, que fundaram o partido, deram o tom de uma força política de tendência socialista. Desse modo, setores mais conservadores da sociedade, especialmente aqueles com o pensamento anticomunista, acionaram o alarme. Nos anos 1980, o Brasil vivia ainda sob a sombra da ditadura militar (1964-1985), e a redemocratização era incipiente e frágil. A direita política mantinha, inquestionavelmente, vivo o medo do comunismo, a partir de fortes raízes nos dogmas da Guerra Fria.

Durante esse período, o antipetismo cresceu entre grupos que viam o partido como uma ameaça à ordem econômica e social. Partidos tradicionais, como o  PSDB e o PFL (atualmente Democratas), formaram a principal oposição ao PT. Defendiam, como ainda defendem, as piores políticas de mercado e uma agenda digna do pior liberalismo(4) do planeta.

Esses grupos retrataram o PT como um partido que, se chegasse ao poder, implementaria políticas radicais de estatização. Como se não bastasse, disseminaram o medo de que o país enfrentaria dificuldades ao lidar com as demandas do mercado global. Líderes das oligarquias, como Mário Amato, ameaçaram deixar o país com suas empresas, uma bravata irresponsável.

CRÍTICA E CASTIGO

Além disso, o PT adotou um discurso fortemente crítico ao modelo econômico vigente, que centrava-se nas reformas neoliberais da década de 1990. A oposição ao PT durante esses anos foi, portanto, um antagonismo político-ideológico, onde a esquerda se opôs frontalmente às políticas liberais. As privatizações, a austeridade fiscal e a redução do Estado, por exemplo, mostraram-se ruins sob vários aspectos, menos para as oligarquias.

No entanto, o PT também enfrentou resistência entre setores religiosos e conservadores. A desconfiança da postura partidária, em relação às questões sociais, como direitos trabalhistas e a agenda dos movimentos, eram uma constante.

Durante as campanhas eleitorais de 1989, 1994 e 1998,  nas eleições presidenciais, o PT sofreu derrotas para o partido antipetista de plantão. Desta forma, a narrativa de incerteza e medo de uma revolução socialista no Brasil ajudou a manter o PT fora do poder. O antipetismo, nesse período, cresceu ao lado do anticomunismo, especialmente quando o partido se aproximava de suas bases populares.

Em suma, quanto maior a retórica crítica ao sistema econômico vigente maior era o sentimento antipetista da pequena burguesia e da mídia.

PT NO PODER (2003 - 2016)

A chegada do PT ao poder, com a eleição de Lula em 2002, marcou uma nova fase na história do antipetismo. Inicialmente, muitos opositores temiam uma gestão radical de esquerda, mas o governo de Lula introduziu o caminho da moderação. O discurso e práxis conciliatória das políticas sociais, com estabilidade econômica, agradou setores importantes.

O programa Bolsa Família, a expansão do crédito e o aumento do salário mínimo trouxeram popularidade ao PT entre as camadas mais pobres. Por outro lado, enquanto o crescimento econômico e a estabilidade avançavam, angariaram apoio aos setores empresariais.

No entanto, o antipetismo foi se reorganizando, agora não apenas com foco nas questões ideológicas. Adicionalmente, surgiram também as críticas à gestão pública e à corrupção sistêmica, que não teve a criação na gestão do PT. A partir do escândalo do “Mensalão” em 2005, com acusações a membros do governo e do PT, a oposição ganhou novas narrativas. O PSDB, que perdera sucessivas eleições, tornou-se o principal articulador da crítica à corrupção petista. Nesse ínterim, novos grupos da sociedade civil, como movimentos liberais e conservadores, concentram-se em torno do antipetismo. Desta forma, surgem novos partidos e alguns antigos mudam de nome para mostrar ao eleitor ignorante uma roupagem nova.

IMPEACHMENT

É provável que as eleições de 2014 tenham dado mostras que o antipetismo crescia e que não aceitaria a vontade do povo. O playboy que perdeu a eleição para uma mulher não aceitou e prometeu não deixar o PT governar. Era o começo do antipetismo explícito e sem a menor cerimônia sobre qualquer posição ética ou moral.

Ao longo dos mandatos de Dilma Rousseff (2011-2016), o antipetismo se intensificou, especialmente durante a crise política que culminou no impeachment. Movimentos como o "Vem Pra Rua" e o "Movimento Brasil Livre" (MBL) emergiram como forças políticas de oposição ao PT. Desse modo, estes pseudomovimentos políticos mobilizaram uma base antipetista a partir das redes sociais. A mobilização incluía empresários, profissionais liberais e setores conservadores, que abraçaram a retórica da implementação de um projeto comunista.

Essa narrativa foi particularmente eficaz entre setores mais conservadores e religiosos, que viam o PT como uma ameaça aos valores tradicionais. O impeachment de Dilma foi, para os antipetistas, uma grande vitória contra um partido que, na visão deles, corrompia o sistema político. Certamente, o sistema político de corrupção republicana estava sob ameaça, com a democracia social e política dos mandatos petistas.

PODER DE QUÊ?

Em suma, durante o período em que o PT esteve no poder, o antipetismo se transformou em uma ferramenta poderosa de mobilização política. Os partidos de oposição, como o PSDB e, mais tarde, o PSL, capitalizaram o descontentamento com a crise econômica e os escândalos de corrupção. Qualquer assunto transforma-se em pauta para a mídia expor seus editoriais e para fortalecer o movimento antipetista.

O antipetismo que nasceu nos anos 1980 como uma oposição ideológica ao socialismo foi muito além. Durante os governos petistas, este sentimento evoluiu para uma exclusão mais ampla, e raramente honesta para a sociedade. Adicionalmente, ao incorporar temas como corrupção, mau uso do Estado e defesa dos valores conservadores, surgia a força do Centrão.

Desse modo, o antipetismo serviu como uma força unificadora para diversas correntes políticas e ideológicas que sempre se locupletaram. Mesmo divergindo em muitos pontos, estas forças se reuniram em torno de uma oposição ao PT, culminando na eleição de Jair Bolsonaro em 2018.

Em suma, a grande pergunta é se, de fato, ter o presidente eleito do país determina o poder para um partido? O PT reassumir o Governo Federal em 2023, deve-se, sem dúvida, a uma série de acordos, que inclui até ratazanas que expulsaram a Dilma em 2016. Não existe governabilidade, e a cada eleição municipal, da Câmara ou do Senado tudo tem que ter barganha e "negócios" obscuros.

Que poder é este?

O RETORNO

Certamente, desde 1980, ou a partir da frase de Paulo Maluf sobre contratar um petista para ser profissional, vivemos de muitas mentiras. O antipetismo que Maluf verbalizou é canalha e se prolifera, atualmente, com empresários da laia de Luciano Hang e outros políticos. Gente mentirosa como Zema, Ratinho e outros que fazem dos seus postos políticos plataformas de ganhos empresariais. Qualquer oligarca minimamente racional, contrataria um petista ao invés de gafanhotos.

Entretanto, após o período do PT no governo federal, e as farsas que até o Poder Judiciário protagonizou, as coisas pioraram. Culminaram com a gestão Bolsonaro onde ratos como Maluf mostraram a que vieram. Como se não bastasse, os eleitores destes oligarcas estão à vontade para exibir seu antipetismo ignóbil e estúpido e prejudicial à sociedade.

Enfim, se repetir o passado é como uma farsa, muitos eleitores gostam de alimentar seus farsantes de estimação praticando o antipetismo. Este tipo de comportamento é uma deficiência estrutural sistêmica onde o pobre de direita pensa que tem alguma chance e futuro. Como se não bastasse, miram-se em golpistas e exibicionistas de rede social como modelo de sucesso.

Definitivamente, o antipetismo é um mal que vai seguindo de pai para filho, como serviçais das oligarquias, perdemos !!!

Ouso dizer que o antipetismo é, desde a redemocratização e a criação do Partido dos Trabalhadores, o maior partido político do país. Depois que tiveram a certeza que tinham apoio, e votos até dos próprios trabalhadores, do pobre de direita e outros analfabetos funcionais, tudo mudou.

Este povo é antipetista por um simples motivo: gostam de ficar sobre os ombros dos trabalhadores e viver da política de favores. E, como se não bastasse, o fanatismo(5) dos antipetistas não tem limites éticos e morais, é um vale-tudo.

"Amanhã tem mais ..."

P. S.

(*)  O Partido dos Trabalhadores (PT) surgiu em 1980. Paulo Maluf era governador, que venceu a eleição como candidato único, e arrebanhou seguidores conservadores. Desta forma, no estado em que ele governava, as primeiras eleições com a participação do PT, era necessário uma frente antitrabalhadores. PAB = Partido do Antipetismo Brasileiro.

(1) "Entre Sem Bater - Paulo Maluf - O Antipetismo desde 1980" em https://evandrooliveira.pro.br/wp/2024/09/16/entre-sem-bater-paulo-maluf-o-antipetismo-desde-1980/ em

(2) "Entre Sem Bater - Sylvia Pankhurst - O Comunismo" em https://evandrooliveira.pro.br/wp/2024/04/01/entre-sem-bater-sylvia-pankhurst-o-comunismo/

(3) "Entre Sem Bater - Yuval Noah Harari - O Secularismo" em https://evandrooliveira.pro.br/wp/2024/09/13/entre-sem-bater-yuval-noah-harari-o-secularismo/

(4) "Entre Sem Bater - Yuval Noah Harari - O Liberalismo Tupiniquim" em https://evandrooliveira.pro.br/wp/2024/09/12/entre-sem-bater-yuval-noah-harari-o-liberalismo-tupiniquim/

(5) "Entre Sem Bater - George Santayana - O Fanatismo" em https://evandrooliveira.pro.br/wp/2024/07/30/entre-sem-bater-george-santayana-o-fanatismo/