O Clube da Rua 5
Percorrí ontem de carro, como já fiz um número incontável de vezes, a região onde passei a minha infância: Av. Paschoal Celestino Soares, Rua 5, Rua Pedro Tórtima...
É quase inacreditável que sejam os mesmos espaços daquela época. Hoje, em cinco minutos reviso muitos anos da minha vida. As ruas são as mesmas mas já não são conhecidas por números, que de há muito deram lugar a nomes de políticos que talvez não mereceriam estar ali eternizados...
Tenho a impressão de que mesmo de carro poderia percorrê-las de olhos fechados, pois é como se eu tivesse ajudado a desenhar o seu traçado com os meus pés. A distância entre a Av.Paschoal Celestino Soares e o início da Rua 5 deve ser de uns 200 metros em subida. Na época, era a distância entre 2 reinos: o da nossa turma: Miguel, João Carlos, Rubão, Paulo, Tedo, Ditinho, Edson, Jair, Dicão, Zé Polenta, Vanderlei, Mulato e o da turma da Rua 8, com quem não nos misturávamos para nada.
Dominávamos uma “ampla” região que incluía o jardim (nome que dávamos à praça que interliga a Paschoal Celestino Soares com a Abelardo Pompeu do Amaral. Nesse espaço, imperava a nossa vontade, com uma cumplicidade coletiva quanto ao que era certo ou errado. A bem da verdade, o João Carlos(Carlão) e eu éramos um pouco “ovelha negras” pois, ao contrário do resto da turma e com um “incentivo” de nossos pais, achávamos que estudar estava do lado das coisas certas...
Aí tínhamos a “sede” do nosso clube. Era rotativa, beneficiada pela ausência de qualquer edificação. Era o lugar em que nos sentávamos para conversar, organizar “peladas”, jogar “birola”, ler “catecismos” e infernizar a vida dos adultos que por aí passavam, especialmente os de bicicleta. Também a grama não escapava do nosso ímpeto infantil e era difícil entender porque os jardineiros da Prefeitura não nos deixavam jogar bola ali, um espaço tão natural e convidativo. Quantos carreirões...
Quando a marcação dos jardineiros ficava mais intensa, fazíamos nossas partidas de fim de tarde bem em frente à minha casa, um amplo espaço asfaltado onde limitávamos com objetos as linhas imaginárias do campo e com tijolos os 2 gols. Ali nos divertíamos muito, praticamente sem nenhum cuidado a não ser com os freqüentes tombos, que resultavam em cotovelos ou joelhos raspados. Outra providência conveniente era desenvolver um endurecimento da sola dos pés, pois o asfalto mesmo no fim de tarde ainda estava muito quente. Atenção com os carros ? Que carros ?