Entre Sem Bater - O Secularismo
Yuval Noah Harari disse:
"... o compromisso mais importante com o secularismo é com a verdade, que é baseada em observação e evidência, em vez de mera fé ..."(1)
Yuval Noah Harari, numa trilogia, aborda os aspectos que todos os seres humanos(2), atualmente, relegaram a um plano inferior. Alguns temas fogem da compreensão da maioria dos frequentadores de redes sociais, inclusive a ideia da felicidade real. Com toda a certeza, este filósofo judeu está em sintonia com os problemas da humanidade muito além de todos nós. Os aspectos que ele descreve e avalia, com análise do antes, do durante e do depois, estão nas pautas de quase todos no planeta, superficialmente. As abordagens de Harari vão muito além dos conceitos básicos de: Secularismo, Liberalismo, Algoritmos na história do Homo Sapiens.
SECULARISMO
A trilha "Entre Sem Bater", e a maioria dos seus textos, objetivam colocar temas, termos e ideias que possam ajudar no oceano estéril Internet. Em outras palavras, a ideia é abrir espaço para pensamentos antigos, que não suscitam debates racionais. Alguns destes temas provocam as pessoas não por serem difíceis, mas pela preguiça mental(3) que reina nas redes sociais. O Secularismo carrega um outro fator que reduz as possibilidades de debate. As pessoas, inclusive aqueles que são experts no tema nas redes, surpreendentemente, não conseguem explicar o que é.
Assim sendo, nos vemos na obrigação de descrever o termo, com a maior isenção possível (mais detalhes é só pesquisar no Wikipedia(*))
O secularismo é o princípio da separação entre instituições governamentais e instituições religiosas. Em certo sentido, o secularismo pode afirmar o direito de ser livre do jugo do ensinamento religioso, bem como o direito à liberdade da imposição governamental de uma religião sobre o povo dentro de um estado que é neutro em matéria de crença. Em outro sentido, refere-se à visão de que as atividades humanas e as decisões, especialmente as políticas, devem ser imparciais em relação à influência religiosa. Alguns estudiosos argumentam que a própria ideia do secularismo tende a mudar.
Fonte: Wikipédia (português)
MUTATIS MUTANDIS
Em primeiro lugar, é importantíssimo destacar que na descrição do verbete no Wikipedia, admite-se a condição mutatis mutandis. As redes sociais e tecnologias disruptivas determinaram muitas mudanças, contudo o secularismo não mudou. Por outro lado, podemos afirmar, por declarações e pensamentos que misturam política e religião, que mudou para pior. É provável que os que não gostam da ideia do secularismo, escondem suas manipulações sobre as pessoas com a ausência do debate.
Desta forma, atingimos - grande parte da população mundial com acesso à Internet - um estágio de escravidão mental(4), inimaginável.
Por isso, é impossível que um texto como este provoque algum tipo de avanço no debate do tema. Muitos, inclusive autores de nome e reconhecimento, tentam e os resultados são decepcionantes. Contudo, é nosso dever colocar mais "dois centavos" de contribuição na aridez e violência verborrágica que atingimos.
Será que a questão é a mídia e o canal? Será que este mesmo conteúdo no Tik Tok ou num podcast teria aceitação universal? Quem sabe se conseguirmos que o tema fosse motivo de comédia stand-up tivesse sucesso? É provável que o problema não seja a mídia e nem o mensageiro, talvez o receptor da mensagem não queira expor suas feridas.
21 LIÇÕES
No contexto da obra de Yuval Noah Harari, "21 Lições para o Século XXI", o autor explora o secularismo como uma proposta ética e racional. Em outras palavras, Harari entende que para a construção de uma sociedade moderna, certos temas devem ter discurso e prática. Harari faz duas afirmações contundentes sobre o secularismo:
"O secularismo pode nos fornecer todos os valores de que precisamos".
"Os seculares se esforçam para não confundir verdade com crença".
Essas ideias pressupõem uma sociedade que valoriza a racionalidade, o ceticismo crítico, e a busca da verdade. Com toda a certeza, a base para esta busca são as evidências, em vez de dogmas religiosos ou ideologias inflexíveis.
No entanto, quando observamos a realidade brasileira, o cenário parece, inquestionavelmente, destoar radicalmente dessas premissas. O Brasil é um país de base cultural profundamente religiosa, onde as práticas políticas e sociais, cada vez mais, seguem alguns líderes religiosos. Notadamente, líderes que professam o cristianismo evangélico neopentecostal, que utilizam sua influência para moldar o debate público. A ideia de secularismo, que prega a separação entre religião e Estado, está, sem dúvida, em declínio no cenário político e social brasileiro.
SUBVERSÃO DO SECULARISMO
Uma das formas mais evidentes de que o secularismo sofre subversão no Brasil está na crescente participação de religiosos na política. Líderes de grandes denominações evangélicas, por exemplo, conquistaram espaços importantes no poder legislativo e executivo. Essa ascensão política tem consequências diretas para a criação de políticas públicas. Políticas estas que, frequentemente, estão sob influência de crenças religiosas e não de qualquer racionalidade secular.
Em questões da educação, cultura e direitos específicos individuais, é comum, notadamente, ver leis que refletem uma visão moral religiosa. Por outro lado, uma abordagem a partir dos direitos de grupos específicos, a partir de evidências científicas ou sociais, ficam no limbo.
Como se não bastasse, a manipulação política das massas por meio da religião é uma prática crescente e sem limites. No Brasil, há uma sobreposição entre a religiosidade popular e a ação política. Esta condição se manifesta em discursos com simbolismos religiosos, capazes de mobilizar uma parcela significativa da população.
Em campanhas eleitorais, nas últimas décadas, desde que instaurou-se a redemocratização, candidatos se apresentam como "defensores da fé". Desta forma, apelam para a ignorância política do eleitor religioso, com promessas de defender valores cristãos. Essa estratégia não só confunde a separação entre religião e política, mas também promove a manipulação de eleitores. Estes eleitores não têm acesso a uma reflexão crítica sobre a relação entre suas crenças pessoais e o funcionamento do Estado democrático.
ANTISECULARISMO
A frase de Harari, "Os seculares se esforçam para não confundir verdade com crença", revela a intenção de construir uma nova sociedade. Contudo, no Brasil, as decisões políticas e éticas não utilizam nenhuma base em fatos verificáveis, e sim em dogmas religiosos. A verdade, frequentemente, sofre distorções para servir a interesses políticos que utilizam a fé religiosa como instrumento de poder. A disseminação de fake news em contextos eleitorais, por exemplo, integra discursos que apelam à fé, à moral e ao medo. Essa prática contraria os princípios seculares de busca pela verdade objetiva, ao substituir o debate racional por manipulações emocionais.
Em suma, as lições de Harari sobre o secularismo e a busca pela verdade não se aplicam no Brasil. Existe sim, inquestionavelmente, um contexto onde a religião e a política possuem ligação intrínseca e vergonhosamente aética e amoral. A manipulação das ideias e a participação de religiosos na política não apenas dificultam a implementação de um estado secular e laico. Perpetuam também uma visão de mundo que confunde crença com verdade, contradizendo os princípios que Harari sugere e defende. Portanto, o Brasil enfrentou um dilema significativo de avançar em direção a uma sociedade mais secular e inclusiva. Perdeu, miseravelmente, num ambiente onde a religião continua a destruir um papel dominante na política e na vida pública.
Podemos dizer, com toda a certeza, a lição sobre o secularismo, que Harari, ensina, não está na sua obra com o idioma português do Brasil. Enfim, peguem os candidatos que se apresentam para as eleições deste ano, perguntem a eles o que pensam do secularismo. E você achando que vivemos num Estado democrático de direito e laico, acorda !
"Amanhã tem mais ..."
P. S.
(*) É comum que os neófitos pesquisem no Dr. Google, ou pergunte em alguma plataforma de IA. Entretanto, não é recomendável quando se deseja alguma isenção ou ao menos uma crítica que destaque opinião de conceito aceitável. Com toda a certeza, um dicionário ou o Wikipedia são as melhores opções, especialmente em outro idioma que não o nativo.
(1) "Entre Sem Bater - Yuval Noah Harari - O Secularismo" em https://evandrooliveira.pro.br/wp/2024/09/13/entre-sem-bater-yuval-noah-harari-o-secularismo/
(2) "Entre Sem Bater - Harari - Seres Humanos" em https://evandrooliveira.pro.br/wp/2023/04/23/entre-sem-bater-yuval-noah-harari-seres-humanos/
(3) "Entre Sem Bater - Liz Hurley - Preguiça Mental" em https://evandrooliveira.pro.br/wp/2023/03/10/entre-sem-bater-liz-hurley-preguica-mental/
(4) "Entre Sem Bater - Bob Marley - Escravidão Mental" em https://evandrooliveira.pro.br/wp/2023/06/18/entre-sem-bater-bob-marley-escravidao-mental/