É SEMPRE A HORA DA NOSSA MORTE AMÉM.
"É sempre a hora da nossa morte amém". Título estranho esse para uma crônica, ainda mais iniciá-la com essa frase... Calma aí amigos, garanto-lhes não ter nada haver com o que possivelmente alguns leitores desavisados estão pensando. Podemos concordar em uma questão, se eu me deparasse com uma crônica com esse título também acharia no mínimo estranhíssimo. Certamente eu pensaria em um texto com uma temática depressiva ou contando alguma história trágica e melancólica. Fiquem sossegados caríssimos amigos leitores, não tem nada de mais. Na verdade, esse é o título da minha última leitura, da talentosíssima e maravilhosa Mariana Salomão Carrara, da qual me tornei fã imediatamente.
Quem é Mariana Salomão Carrara?
Mariana Salomão Carrara nasceu em São Paulo, é escritora e defensora pública, autora de outras obras como, " Não fossem as sílabas de sábado", "Se Deus me chamar não vou", entre outros títulos maravilhosos. É vencedora do prêmio São Paulo de literatura no ano de 2023. Graduada em direito pela Universidade de São Paulo em 2009, tendo sua experiência acadêmica e prática orientada à área criminal. Como eu disse no início, "É sempre a hora da nossa morte amém", foi minha última leitura. Cheguei ao título por um acaso, na verdade, o título chamou minha atenção, aliás, outro talento da escritora é em dar títulos aos seus livros, por si só, já nos arrebata.
Quanto ao livro...
Narrado em primeira pessoa — particularmente eu amo histórias em primeira pessoa, " É sempre a hora da nossa morte amém", é um romance sem nenhuma complicação. Desrespeito a história de uma senhora por nome Aurora, que está vivendo em um asilo, e junto com uma assistente social que a visita frequentemente, essa personagem tenta reconstruir a sua memória. Aurora foi encontrada vagando sozinha e completamente desorientada, com uma coleira nas mãos dizendo: " Camila! Camila! Me devolva a minha Camila". Acontece que ela não se lembra dessa "Camila". Cada capítulo representa um dia na vida de Aurora e a cada novo dia surge uma nova memória a respeito dessa tal ( Camila ), contudo, as suas histórias se divergem todas as vezes. Em alguns momentos Camila é sua filha perdida, em outros a amiga, porém, em todas as lembranças ela relata a morte dessa pessoa de alguma maneira. Ela também menciona o esposo, Antônio, que na época era funcionário do instituto médico legal no período da ditadura. Esse é um detalhe muitíssimo interessante, a forma como a autora narra sobre situações delicadas como "a ditadura" sem torná-la pauta do livro.
Nesse surpreendente romance a autora dialoga principalmente com o tema da morte, o livro inteiro aborda por diversas vezes as perdas, o medo de morrer, e a tentativa de controle da vida em todos os aspectos. O texto é uma delícia de se ler, tranquilo, simples, fácil de se entender, eu amei o final da história. Basta ler o primeiro parágrafo e pronto, você não consegue parar mais. O presente título eu encontrei na biblioteca eletrônica do Estado de São Paulo, ( Biblion ). Fica o convite aos leitores para desfrutar dessa obra espetacular. Mariana ganhou nesse relés cronista de final de semana um fã e leitor apaixonado por sua literatura.