O Sonho de uma vida
Se olhava no espelho e dançava sob o sonho de casamento da maioria das mulheres daquela época, enquanto maquiava o rosto e iluminava de batom vermelho seus tênues lábios.
Vestida em branco, sua pele alva com seus cabelos loiros reluziam a harmonizar com o espírito de alegria e sua incisiva formosura que tanto esbanjava no dia a dia, a ficar mais reluzente, afinal naquela tarde era o seu casamento.
Tão claro como o imenso céu azul sobre o horizonte. O noivo a esperava na igreja ansiosamente, sob os adornos costumeiros e os convidados oriundos da rua, na qual residia.
Os ritos iniciados a perpetuar aquela união começavam a harmonizar com a música característica da entrada dela na igreja e em respeito mútuo os convidados ficaram de pé.
Tão linda a sorrir e a desfilar sedução com a sua maliciosa inocente caminhada ao altar, que flertava com a libido individual dos homens, matando de inveja as mulheres e ascendendo ao noivo o irracional ciúme.
Quando o padre disse:
- Eu vos declaro marido e mulher. Pode beijar a noiva.
Os noivos sorridentes e felizes se beijaram apaixonadamente, causando furor àqueles que assitiam.
Naquela noite de núpcias, como em muitas fotografias, ele a carregou no colo, a amou e a tratou com carinho.
Meses depois a felicidade se perdia nas nuvens escuras da poluição. O céu começou a mergulhar num inferno, que ela saia para o trabalho sem já ter vontade de voltar pra casa.
A situação financeira apertava, o ciúme cadenciava e a imaturidade se encarregava de tornar paz em desunião.
Naquele período não havia legislação de proteção a mulher e ela padecia, com o obssessivo ciúme do seu esposo, pela sua beleza estonteante, que incomodava até os falecidos. Indo ao ponto de constantes violências, que firjavam serias brigas. Onde ela como convertida a uma submissão apanhava religiosamente de quem se dizia seu companheiro e amigo.
A gravidez foi uma pausa na violência, que posteriormente viria a causar tantos desconfortos a ponto da relação chegar ao fim.
Embaraçada entre os muros da expectativa e da realidade, ela mergulhou num lado escuro, andava com um e com outro, até perder o brilho do sonho e indo trabalhar num cabaré.
Aquela menina, tão meiga, tão bela, de tantas feridas tornou-se uma fera, que já nem sentia a essência de um singelo beijo.