Ipê amarelo
Cairam todas, não sobraram nenhuma delas, nem para lembrança. Despencaram do pé todas as flores dos ipês amarelos, todas secas e murchas, não suportaram a secura do ar e a fumaça. Não vão mais enfeitar o nosso dia, nem quando a chuva voltar, se é que vai voltar outra vez algum dia.
Por todo o céu o que vemos é cinza e vermelho atrás da paisagem negra dos grandes prédios de apartamentos e das casas de luxo, atrás dos morros nas comunidades também, com os seus postes improvisados de antenas de internet banda larga. Todos estão conectados com o mundo, os ricos e os pobres. Todos sabem da gravidade do problema em que nos metemos.
E os ipês amarelos perderan todas as flores, e as outras árvores viraram cinzas. As chamas vermelhas se alastraram por todo o nosso belo planeta azul. Nem os cactos vão conseguir sobreviver na aridez em que vai se tornar a nossa bela Terra, o ex-planeta-água.
Espero que as nossas crianças saibam sobreviver, de algum modo inusitado, criativo que seja, sem a doce água que costumava matar a nossa sede e limpar o nosso ar. Espero que elas também nos perdoem nosso crime infame. Disseram que não tem mais volta, que estamos perdidos, condenados de vez. A seca, a sede, a aridez...
Mas eu tenho fé em nossas crianças, elas haverão de descobrir um jeito de viver nesta herança hedionda que deixamos para elas.
Saberão lidar com o nosso egoísmo?
Entenderão elas aquilo que nunca endende(re)mos?
A verdadeira prosperidade vem da conservação e uso consciente de tudo aquilo que possuímos. O uso irrefreado e inconsequente de qualquer tipo de recurso, inclusive o próprio dinheiro, a saúde, a doce natureza...acarreta prejuízos incalculáveis. Infelizmente a fome e a miséria estão aí de testemunhas. Não há nenhuma nação neste globo, não há nenhum ser humano que não haja pago o preço pelos seus abusos.
A chuva não virá mais, nem como forma de lágrimas, enquanto não formos capazes de reconhecer este nosso terrível erro coletivo e começar a corrigí-lo.