O AMIGO INOCENTE

Adriana é uma médica bem sucedida.

Escolheu a especialização em Cardiologia.

Sua filha Giovana se preparava para prestar o ENEM para uma vaga em curso de Medicina, também.

Adriana estava ansiosa e ao mesmo tempo feliz pela filha estar escolhendo a mesma carreira que dela e de seu marido.

Naquele domingo ensolarado, enquanto ela rezava para que a filha fosse bem nas provas do ENEM que estavam sendo realizadas, chegou uma notícia bombástica que fez o seu coração da Cardiologista quase parar.

O grande amigo de Adriana e seu marido Hélio, o Cirurgião Plástico famoso Dr.Júlio César tinha assassinado a esposa Clara, mas a princípio as provas contra ele eram inconclusivas.

A notícia tomou conta dos noticiários, da mídia nacional e na Faculdade de Medicina só se falava no crime hediondo.

Adriana e seu esposo Hélio, não acreditavam de maneira nenhuma que Júlio César fosse o autor do crime. 

Afinal, ele era ótima pessoa e tinham convivido com ele, sendo o feminicida um dos melhores alunos que passaram pela Faculdade.

Dois anos se passaram e o Dr. Júlio César foi a júri popular, saindo de lá com a sentença de culpado e condenado a vinte e cinco anos de prisão.

Até hoje, Adriana e Hélio acreditam que foi um engano, e que Júlio César foi condenado injustamente: Ele sempre foi um cidadão de bem, eles pensavam.

Um dia, a filha de Adriana chegou da Faculdade com a notícia de que descobriram que o "Tio Júlio" mantinha, na época do crime, um caso com uma médica residente e que Clara, a vítima do feminicídio sofria de um câncer sanguíneo não revelado, até então.

Mesmo assim, Adriana e Hélio consideravam a condenação do amigo médico pelo júri popular uma injustiça.

Foi quando nào aguentando mais a falta de imparcialidade dos pais, Giovana perguntou aos seus pais:

" O quanto do patriarcado está internalizado em vocês, que vocês não conseguem enxergar que o Tio Júlio matou a Tia Clara"?

O casal de médicos, atordoado com aquela pergunta da filha sugeriu que juntos todos fossem programar a próxima viagem de férias, durante o almoço na varanda. 

Consuelo Carvalho
Enviado por Consuelo Carvalho em 14/09/2024
Reeditado em 14/09/2024
Código do texto: T8151419
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