Entre Sem Bater - O Liberalismo Tupiniquim
Yuval Noah Harari disse:
"... o liberalismo não tem respostas óbvias para os maiores problemas que enfrentamos: colapso ecológico e ruptura tecnológica ..."(1)
Yuval Noah Harari, numa trilogia, aborda os aspectos que todos os seres humanos(1), atualmente, relegaram a um plano inferior. Alguns temas fogem da compreensão da maioria dos frequentadores de redes sociais, inclusive a ideia da felicidade real. Com toda a certeza, este filósofo judeu está em sintonia com os problemas da humanidade muito além de todos nós. Os aspectos que ele descreve e avalia, com análise do antes, do durante e do depois, estão nas pautas de quase todos no planeta, superficialmente. As abordagens de Harari vão muito além dos conceitos básicos de: Secularismo, Liberalismo, Algoritmos na história do Homo Sapiens.
O LIBERALISMO
É provável que o Brasil seja o país recordista de contradições. Parafraseando Tim Maia, "... no Brasil, pobre é adora o liberalismo, é de direita e e se define como liberal ...". E, como se não bastasse, coitado daquele que ousar debater com um destes pobres liberais(*) sobre os males do liberalismo.
Uma vez que um dos propósitos da trilha "Entre Sem Bater" é tentar abrir algum debate e algumas cabeças, vamos arriscar.
Definição
Utilizaremos uma definição do Wikipedia, com tradução para o português, para não suscitar precipitação nos comentários. Por outro lado, esperamos que ao menos as pessoas leiam o texto até o final e reflitam sobre a questão do liberalismo, no Brasil.
"O liberalismo é uma doutrina política, social e econômica que evoluiu ao longo do tempo. Atualmente, no campo social defende a liberdade individual, a igualdade perante a lei e a limitação dos poderes do Estado. Economicamente, defende a iniciativa privada e o mercado livre . Como atitude vital, propõe a tolerância. Representa correntes muito heterogêneas, com muitas formas e tipos de liberalismo, mas em geral defende o Estado laico; direitos individuais — como o direito à propriedade, liberdade de associação, liberdade de religião e liberdade de expressão —; o mercado livre ou capitalismo; equidade jurídica de todos os indivíduos, sem distinção de sexo, orientação sexual, raça, etnia, origem ou condição social; e o estado de direito ao qual os governantes devem se submeter."
Fonte: Wikipedia (espanhol)
A definição de qualquer doutrina parece, a princípio, uma maravilha e o desejo de todos. Analogamente, é como a decapitação e outras barbaridades, no auge da Revolução Francesa, tipo faça o que eu mando. Desta forma, a situação e condições do que grupos de brasileiros chamam de liberalismo, pelo qual lutam, é pura insanidade.
Quando algum termo, como o liberalismo, precisa de excepcionalidades e separação entre "clássico" e "moderno", é porque não funciona. Em suma, somente um bando de alienados ou serviçais das elites é que defendem o liberalismo tupiniquim, que é "pero no mucho".
LIBERALISMO TUPINIQUIM
Com toda a certeza, falar de liberalismo no Brasil é uma insanidade. Os seus mais ardorosos defensores pregam, por exemplo, liberdade religiosa, desde que seja igual a dele. A maioria é contra tudo que vem do Estado, mas quando não consegue gerir seus negócios, pede dinheiro público. Reclama, diuturnamente, dos impostos, quanto mais reclama, mais sonega. Em outras palavras, o liberalismo tupiniquim é a contradição em doses cavalares.
No contexto europeu dos séculos XVII e XVIII, dos filósofos John Locke, Adam Smith e Montesquieu, é provável que o liberalismo funcionasse. Entretanto, a base deveria ser a defesa da liberdade individual, do mercado livre e das limitações do poder do Estado. Devemos, contudo, esclarecer que a luta principal era contra o absolutismo da época.
Desta forma, a sua aplicação no Brasil contemporâneo revela contradições profundas e uma desconexão entre a teoria e a realidade do país.
CONTRADIÇÕES
Uma das primeiras contradições que surge é uma tentativa de transporte do modelo liberal norte-americano. Muitos teóricos e lunáticos entendem o modelo estadunidense como o maior exemplo de liberalismo, para o contexto brasileiro. Os EUA têm uma história e cultura com forte influência da colonização britânica. Ou seja, foi um Estado que se ergueu sob valores de individualismo e iniciativa privada, com uma forte tradição de autonomia local.
Além disso, o país se industrializou cedo e desenvolveu uma economia robusta, tornando-se a maior potência econômica do mundo. Por outro lado, o Brasil, sob colonização portuguesa, viveu séculos de exploração, escravidão e dependência econômica externa. Surpreendentemente, até após a Independência, devíamos dinheiro e favores à Coroa Portuguesa. Pagamos caro pela liberdade política e o desenvolvimento industrial foi extremamente tardio.
Esse contraste histórico e cultural torna a tentativa de importar o modelo liberal dos EUA para o Brasil insustentável. O Brasil tem profundas desigualdades sociais, uma economia que, embora grande, exibe altos níveis de informalidade, desigualdade de renda e pobreza estrutural.
As políticas liberais como, por exemplo, a redução do Estado e a desregulamentação dos mercados, agravam essas desigualdades em vez de mitigá-las. Nos EUA, o liberalismo ajusta-se, frequentemente, com um sistema de segurança social robusto para as elites. Naquele país, as políticas de bem-estar para os mais pobres existem, mas sofrem com limitações como em todo regime capitalista. No Brasil, entretanto, o desmonte do Estado de bem-estar social em nome de políticas liberais deixa as camadas mais vulneráveis sem proteção.
FALSA LIBERDADE
Outro ponto de contradição é a ideia de que a liberdade econômica garantirá automaticamente o bem-estar da população. A teoria liberal afirma que, com menos intervenção do Estado, o mercado se ajustará naturalmente, promovendo a eficiência e a prosperidade. Contudo, no Brasil, essa crença ignora as estruturas dos oligopolistas que dominam os setores estratégicos da economia. Setores, como, por exemplo, o financeiro, o de telecomunicações, de transportes rodoviários formam verdadeiras máfias e cartéis. E, inquestionavelmente, grande parcela da sociedade vê este liberalismo como uma espécie de "... quem não tem competência, não se estabelece ...".
A competição, uma virtude do liberalismo cantada em verso e prosa sofre restrições no Brasil por esses grandes conglomerados. São, organizações que, com toda a certeza, se beneficiam de relações próximas com o Estado. Em suma, são incapazes e não têm interesse em gerar uma verdadeira concorrência que favoreça a nação.
Além disso, o Brasil não tem um ambiente jurídico, institucional e cultural que permita a aplicação pura dos princípios liberais. A corrupção endêmica, a falta de transparência e a até a ineficiência proposital do Estado dificultam a criação de um mercado verdadeiramente livre. O liberalismo pressupõe um Estado forte e eficiente o suficiente para garantir o cumprimento dos contratos e proteger a propriedade privada,
HIPOCRISIA LIBERAL
Por fim, a hipocrisia dos que se autoproclamam liberais brasileiros fica evidente quando se observa suas contradições. Embora preguem a redução do Estado, de acordo com o liberalismo clássico, não rejeitam os benefícios que ele oferece às elites. Subsídios agrícolas, incentivos fiscais e desonerações para grandes empresas são apenas alguns exemplos de privilégios. O Estado beneficia certos grupos econômicos, mesmo sob uma retórica libera hipócrita. Isso mostra que, na prática, o liberalismo no Brasil serve mais como uma ferramenta para a manutenção dos privilégios das elites. Ao invés de promover uma sociedade mais justa e livre, perpetua o abismo social e econômico da nação.
Em suma, a tentativa de aplicar teorias liberais no Brasil, a partir do modelo dos EUA, revela-se uma contradição. Desde que entendemos e contextualizamos o abismo histórico, cultural e econômico entre os dois países, torna-se uma insanidade a comparação. O liberalismo, que em teoria defende a liberdade individual e o livre mercado, no Brasil se transforma em um discurso vazio e próprio dos canalhas.
O pensamento de Harari, com a indicação de lições para o Século XXI, servem como paradigma real para o Brasil, só falta assimilarmos.
"O liberalismo não tem respostas óbvias para os maiores problemas que enfrentamos: colapso ecológico e ruptura tecnológica. O liberalismo tradicionalmente se baseou no crescimento econômico para resolver magicamente conflitos sociais e políticos difíceis."
in "21 Lições para o Século XXI" (Spiegel & Grau 2018)
Certamente não sou um positivista(3) e não acredito nestes liberais tupiniquins de mente vazia e ideias obtusas. Não existe um mal maior que o liberalismo e seus liberais, que são eternos servos das oligarquias, às quais nunca pertencerão. Tente, ao menos uma vez, um debate com um liberal sobre, por exemplo, problemas climáticos, você não vai se surpreender. Coitados !
"Amanhã tem mais ..."
P. S.
(*) Algumas palavras são de uso complexo. Não devemos confundir, em hipótese alguma os liberais (adjetivo) dos liberais (substantivo). Do mesmo modo, liberalismo é somente a doutrina conforme indicado anteriormente neste texto.
(1) "Entre Sem Bater - Yuval Noah Harari - O Liberalismo Tupiniquim" em https://evandrooliveira.pro.br/wp/2024/09/12/entre-sem-bater-yuval-noah-harari-o-liberalismo-tupiniquim/
(2) "Entre Sem Bater - Harari - Seres Humanos" em https://evandrooliveira.pro.br/wp/2023/04/23/entre-sem-bater-yuval-noah-harari-seres-humanos/
(3) "Entre Sem Bater - Albert Einstein - Não sou Positivista !" em https://evandrooliveira.pro.br/wp/2024/09/02/entre-sem-bater-albert-einstein-nao-sou-positivista/