“Diz que fui por aí.”
“Diz que fui por aí.”
Zé Ketti
Sabe esperava, sim, eu esperava, porque não?! Esperava que se importasse um pouco que fosse, mas vejo que me enganei. Afinal, fui eu que telefonei a você e, não você para mim. Isso tem muita diferença, não é? Eu que deveria marcar o encontro, eu que deveria insistir... Não, insistir não, não é a palavra certa. Será que só eu que tenho de demonstrar interesse? Será que não há uma fatia do teu sentimento que se interesse por mim? Pelo visto não.
Porra! Passei o dia todo na expectativa que essa merda fosse tocar. Que nada, essa merda assim como coloquei no bolso, no bolso ficou, quieto, mudo, silencioso em suas engrenagens tecnológicas cumprindo seu papel de merda e nada mais.
Não tem nada não, como diz aquela velha canção da Nara:
diz que fui por aí/ levando o violão /debaixo do braço /em qualquer esquina eu paro /em qualquer botequim eu entro /e se houver motivo /é mais um samba qu'eu faço.
O pior que nem violão tenho. Não sei tocar porra nenhuma de instrumento. Gostaria. Piano por exemplo, apesar de não gostar de solo pianíssimo, tenho um tesão melancólico toda vez que ouço um concerto para piano. Coloco-me no lugar do concertista e arrebato todo o clima da peça como se fosse eu que ali estivesse.
Outra paixão são as cordas. Claro que o violão veio em primeiro lugar, mas por sua dificuldade, por precisar se entregar quase vinte horas a ele, desisti.
Mas dos instrumentos de cordas, acho que o violino seja o mais triste de todos, o que mais atinge o âmago da alma. Assim como a guitarra. Um solo de guitarra fere de transbordamento melódico numa capacidade inenarrável. É preciso sentir a guitarra, sentir os dedos do instrumentista percorrendo as cordas uma a uma num só movimento verdadeiro. A guitarra é mais potente que o violino. Este eleva cada fibra da alma acima do mundo. A guitarra não só eleva como fere os sentimentos da carne, sangrando sangue puro de paixão e morte.