Irremediavelmente só
Boa noite, durmam bem. Escrevo em um aplicativo de mensagens para algumas pessoas, cada vez mais distantes. Minha mãe espera que um dia eu volte para minha cidade, e eu queria nunca mais voltar. Às vezes sou tomada por um medo da solidão e outras me sinto completa em minha solitude, apesar de não ser só. Tenho pessoas próximas, mas dentro de mim, sempre estive só, mesmo em multidões, irremediavelmente só.
E uma solidão estranha, pois nela não há ausência de sentimentos, pelo contrário, estão tão presentes que chegam a doer, talvez por não saber como compartilhá-los ou administrá-los. Nem sequer sei qual palavra seria correta. Então, eles se agruparam em meu coração, e ficam ali como uma bomba-relógio. Mas eu não quero mais controlar. Entendo perfeitamente Gonzaguinha, que poeticamente escreveu, não dá mais pra segurar, explode coração.
Meus sentimentos aqui todos retidos, que vez por outra escapam de forma descontrolada, da raiva ao amor. Ah, o amor, que sentimento! Ele tem a missão de expandir e não cessar nunca, quando acaba é o encontro com a morte, antes mesmo do derradeiro fim. O amor é o sim da vida, pulsando incessantemente. E quando eu descubro que amo, ainda me espanto, me espanto pelos caminhos que o amor me leva, mas me espanto me encantando por seus detalhes, que me ensinam que eu não posso controlar tudo, muito menos meu coração. Que ama quem não me ama, mas também ama quem me ama. E muitas vezes não se sente amado por ninguém. Na outra ponta, a morte, um outro espanto, confuso e aleatório.
Porém, sentir no fundo do seu ser que você ama alguém, sem saber quando, onde, como ou por que, apenas sentindo amor, sem saber por onde esse amor irá te levar, sem saber o quanto ele irá te revirar, sem saber se um dia acaba, sem saber se um dia começa na realidade, um grande passo no escuro, ansiando desesperadamente encontrar a luz. Continua, sendo para mim, o maior e mais encantador espanto da vida. Maior que a morte.