Tento escrever
Tento escrever. Sozinha em casa seria a oportunidade perfeita, para voltar a construir um texto, com as palavras entaladas na mente a meses, sem que fiquem visíveis a olhos sedentos pela concretude de sua forma. Escritas ou digitadas. Mas adquiri ao longo dos anos, a mania de solitários por todos os cantos, que ligam a televisão, apenas para que lhe façam companhia, sons aleatórios de programas desinteressantes, apenas por muitas vezes não suportar o silêncio de um apartamento vazio.
Mas heis que sou capturada por sons cada vez mais confusos de um festival de música que passa na televisão. Eu costumava estar presente, pessoalmente neste festival, e agora estou em casa e pela apresentação, fiquei aliviada, sem medo de parecer amargurada. Um Mc canta sobre seu mundo, e definitivamente reconheço o tanto de outros mundos que existem em um só. Às vezes, tão estranhos uns aos outros.
Se ele soubesse, que sexta-feira a noite, existe uma mulher agora sentada no sofá da sala, com um notebook no colo, querendo apenas escrever e escrevendo, coisas que muitas vezes também soam tão desconexas, talvez lhe despertasse o mesmo espanto o falta de interesse que ele me provoca.
A cidade está um caos, a vida está difícil e todos parecem estar com a saúde mental em frangalhos. E além de tudo, um clima apocalíptico se espalha por todos os cantos.
E como não bastasse ser difícil viver, agora é difícil respirar. É difícil saber, difícil ter fé no futuro. E ser adulto, continua não sendo tarefa para amadores. Principalmente se você decide que você mesmo tomará as decisões que lhe cabem para sua vida, aceitando todas as possíveis consequências. Sem coaching, sem pastor, sem terapeuta, sem amores tóxicos.