Como diz o velho deitado
Lá fora um casal de andorinhas voa feliz. Sabe-se que uma andorinha só, não faz andorinhos. Na estrada que se vê ao longe, caminham de mãos dadas um médico e um louco. O louco larga a mão do médico, porque de médico e de louco ele só tem o lado louco.
Um casal de namorados prontos para o baile à fantasia diz juras de amor. Enganei-me, não era fantasia. Os narizes dos dois é que eram muito grandes. Dois narigudos não têm narizes perfeitos.
Tento acertar os ditados populares, mas sempre algo me diz para escrever diferente e não ficar na mesmice que todos conhecem.
Cheguei à conclusão de que é errando que se é reprovado.
Alguns me conhecem, outros não. Fiquem todos sabendo que:
Eu sou eu, foi meu pai que me encomendou.
Dentro da casa, Índio e Flamenguista discutem:
Índio – Índio quer apito, se não der, não começa o jogo.
Flamenguista – Atrás de uma bola sempre vem um perna de pau.
Índio – De grão em grão, a galinha vai bicando.
Flamenguista – Crássico é crássico e framengo é framengo.
Índio – Na natureza nada se cria, tudo se procria. (Entra o ladrão).
Ladrão – Ladrão que rouba de ladrão é ladrão.
Índio – Quem não tem cão, caça com cachorro mesmo.
Entra uma mulher:
Mulher – O melhor amigo do homem é o pior amigo da mulher.
Ladrão – De boas intenções o inferno vai lotar.
Entra um bom homem:
Flamenguista – Em time que está ganhando, tenho pena do adversário.
Bom homem – Mulher de amigo meu, pra mim é mulher.
Ladrão (caminhando com má intenção na direção do bom homem):
– Quem dá aos pobres fica mais pobre.
Índio – Quem casa quer casa, roupa lavada e comida.
Mulher – Beleza não põe mesa, põe banquete.
Flamenguista (Como sempre com raiva do mundo) – O calado empata e vai para os pênaltis.
A mulher fica confusa, mas resolve não responder. Sai pela porta e volta em seguida:
Mulher (para o Índio) – O que é do homem é também da mulher.
Índio – Não confunda alho com cará. (Entra o Japonês.)
Japonês (para o Índio) – O que selia do amalelo se não existisse a laça japonesa.
Índio – Mais valem mil pássaros no mato do que um na mão.
Ladrão – A pressa é uma fuga da polícia. (Entra a freira).
Índio – (para a freira) Água mole em pedra dura, nunca se vê a pedra furar. (Olha para o Flamenguista, sem entender o que significa a camisa colorida com as cores preta e vermelha).
Freira (com as mãos juntas ao peito, em tom solene de oração) – Deus ajuda quem pede socorro.
Ladrão – Quem avisa é dedo duro.
Freira – Quem nunca pecou é um santo. (Olhando para todos e analisando com qual poderia pecar).
Japonês – Quem vê cala não vê coloa.
Ladrão – O crime, pessoal, pense: não compensa, mas dá uma alegria...
Freira (Pensando em atos pecaminosos) – Quem chegar por último é marido da freira.
Japonês – O aplessado come mais lápido.
Freira – Quem fala a verdade não é mentiroso.
Índio (perdendo a paciência) – Vivendo é que se sobrevive (O Flamenguista vai embora sem se despedir de ninguém).
Japonês (para o Índio) – Quem espela tem tempo a perder.
Índio – Pau que nasce torto, um dia morre, tortinho, tortinho. (Uma pedra atravessa a porta aberta, obviamente atirada pelo Flamenguista, e pega na cabeça do Careca que havia entrado naquele instante. O Careca sai com a cabeça ensanguentada.
Careca (antes de sair) – É dos carecas que os cabeludos gozam. Entra o Cego, pela porta dos fundos.
Índio – O que arde cura, o que não arde, também.
Cego – Por que me olhas se não estou nem aí.
Índio – Macaco velho não é macaco pré-histórico.
Cego – Vim, vi, voltei e não enxerguei.
Freira (Novamente com pensamentos proibidos pela lei divina.) – Santo de casa não faz milagre, faz pecado.
Índio – Nem só de pão e mulher vive o homem.
Japonês (para o Cego) – Quem pode, pode. Quem não pode, não pode.
Ladrão (Com tom de quem conhece os caminhos tortuosos da vida) – Se não podemos com ele, corramos bastante.
Freira – Não há sábado sem sol, nem domingo sem missa, nem segunda sem uma primeira.
Índio – Homem que é homem não chora, se desespera. (Todos se dirigem para a porta, menos o Ladrão, que fica para ver se deixaram alguma coisa de valor para fazer a feira).
Cego – Devagar se vai, se vem e se perde. (Todos saem com o Cego na frente. O Ladrão vai atrás).
Ladrão (Feliz porque conseguiu algumas bugigangas que poderá vender e proferindo algo que os afastasse dele.
Reconhecendo também que é uma má companhia) - Antes só do que comigo.
Quem leu o livro de crônicas “O nariz” de Luís Fernando Veríssimo, Editora Ática, vai comentar que fiz plágio da página 38, “Incidente na casa do ferreiro”. Não vou me defender, por que: “Na natureza nada se cria, tudo se copia”. Ih, falei um ditado correto...
Aroldo Arão de Medeiros
30/06/2011