Entre Sem Bater - Simplesmente, éramos Homo Sapiens

Yuval Noah Harari disse:

"... setenta mil anos atrás, o homo sapiens ainda era um animal insignificante cuidando de seus próprios negócios em um canto da África ..."(1)

Yuval Noah Harari, numa trilogia, aborda os aspectos que todos os seres humanos(2), atualmente, relegaram a um plano inferior. Alguns temas fogem da compreensão da maioria dos frequentadores de redes sociais, inclusive a ideia da felicidade real. Com toda a certeza, este filósofo judeu está em sintonia com os problemas da humanidade muito além de todos nós. Os aspectos que ele descreve e avalia, com análise do antes, do durante e do depois, estão nas pautas de quase todos no planeta, superficialmente. As abordagens de Harari vão muito além dos conceitos básicos de: Secularismo, Liberalismo, Algoritmos na história do Homo Sapiens.

HOMO SAPIENS

É provável que a maioria das pessoas conheça o termo, mas se pedirmos uma explicação, quase todos terão dificuldades de explicar de maneira simples.

Homo é um gênero de primatas eretos (dos que andam sobre duas pernas. Os seres humanos são a única espécie viva que cientistas e pesquisadores seguidores de Darwin(*) assim aceitam. Homo Sapiens, é um termo em latim para designar "homem sábio", o que, certamente, não condiz com o mundo moderno. Chimpanzés, gorilas e orangotangos são nossos "parentes" vivos notórios, com toda a certeza, alguns em alguma ordem de inteligência(3).

“Você nunca conseguiria convencer um macaco a lhe dar uma banana prometendo-lhe bananas ilimitadas após a morte no paraíso dos macacos.” Yuval Noah Harari, Sapiens: Uma Breve História da Humanidade (2011 - Em Hebraico)

HOMO INSIPIENS

O pensamento de Harari, transpondo a frase para os dias atuais, indica, sem dúvida, que temos a prova científica da criação do Homo Insipiens.

Setenta mil anos atrás, o homo sapiens ainda era um animal insignificante cuidando de seus próprios negócios em um canto da África. Nos milênios seguintes, ele se transformou no mestre de todo o planeta e no terror do ecossistema. Hoje, ele está à beira de se tornar um deus, pronto para adquirir não apenas a juventude eterna, mas também as habilidades divinas de criação e destruição. in "Sapiens: Uma Breve História da Humanidade" (Harper 2011).

Em suma, a possibilidade de que seres humanos, com redes sociais e tudo, querem se tornar deuses, revela muita ignorância. Talvez seja o momento dos estudiosos provarem que o Homo Insipiens está por aí, não preso em zoológicos, mas livre nas redes sociais,

O HOMO SAPIENS MODERNO

Caracterizado por um cérebro altamente desenvolvido, essa espécie evoluiu de ancestrais hominídeos e se distingue por capacidades únicas. Por exemplo, as linguagens complexas, o uso de ferramentas, a expressão artística compreensível e uma cultura social comunitária.

Ao longo de sua história, o Homo Sapiens se expandiu pelo mundo, interagindo com outras espécies humanas como os Neandertais. Essa dispersão global contribuiu para a diversidade genética e cultural da espécie, o que, raramente, vemos na atualidade.

Assim sendo, perguntas intrigantes podem surgir a todo momento, pelo menos deveriam surgir:

Será que o Homo Sapiens moderno, imerso na era digital e nas redes sociais, é, inquestionavelmente, um "homo sapiens"?

É provável que este hominídeo se aproximará mais de um "Homo Insipiens", ou "homem insipiente" e nonsense ?

O HOMO SAPIENS ANCESTRAL

Nossos ancestrais enfrentaram, com toda a certeza, desafios diários de sobrevivência. Eles precisavam caçar, coletar alimentos, construir abrigos e proteger-se de predadores. Essa luta constante moldou seu cérebro e comportamento, desenvolvendo habilidades de cooperação, comunicação e solução de problemas. Esses hominídeos ancestrais viviam em harmonia com a natureza, fazendo parte integrante das teias ambientais e ambientais.

Eles entenderam, inquestionavelmente, sua dependência do mundo natural para sua subsistência e sobrevivência. Atualmente, os crimes ambientais e abusos que seres humanos praticam, determinam que mudamos muito e deixamos de ter consciência.

O HOMO INSIPIENS MODERNO

Hoje em dia, muitos indivíduos da espécie Homo Sapiens perderam essa conexão com a natureza e a compreensão de seu papel com o meio ambiente. Imersos em um mundo digital e redes sociais, eles passam grande parte do tempo interagindo com telas e dispositivos eletrônicos. Essa obsessão por tecnologia e mídias sociais leva a um distanciamento da realidade física e a uma falta de conexão com o mundo natural.

Em outras palavras, virou normal o Homo Sapiens moderno preocupar-se mais em cultivar uma imagem perfeita online do que em ter consciência. Surpreendentemente, a maioria deles diz que isso é "... desenvolver habilidades práticas de sobrevivência ...". Além disso, a dependência excessiva de redes sociais leva a uma diminuição da capacidade de interação social face a face. Ironicamente, enquanto as redes sociais prometem conectar as pessoas, muitas vezes elas acabam isolando-as em suas próprias bolhas digitais.

UM DIAGNÓSTICO PREOCUPANTE

Ao comparar o Homo Sapiens ancestral com o moderno, é possível identificar problemas e construir um diagnóstico preocupante. Muitos indivíduos da espécie humana moderna parecem ter perdido a sabedoria e a conexão com a natureza. Em vez de serem sábios e adaptáveis, os humanos modernos modernos se tornaram dependentes da tecnologia e das redes sociais. Alguns entram em desespero total quando, por exemplo, um app como o Twitter fica fora do ar. Saudades do Twitter (recuso-me a chamar de X), #SQN !

Eles parecem ter trocado a capacidade de resolver problemas reais pela busca de curtidas e seguidores online. Essa tendência é especialmente grave quando consideramos os desafios globais que a humanidade enfrenta. As mudanças climáticas, a perda de biodiversidade e a escassez de recursos, por exemplo, são desafios reais. Para enfrentar esses desafios, precisamos resgatar a sabedoria e a conexão com a natureza que garantiu a sobrevivência de nossos ancestrais.

Enfim, embora o Homo Sapiens moderno realize feitos impressionantes em termos de tecnologia e desenvolvimento cultural, ele se perdeu. Ao perder de vista sua essência como ser humano e sua conexão com o mundo natural seus objetivos e foco desvirtuaram como humano. Outrossim, se nada mudar, corremos o risco de nos tornarmos uma espécie de "Homo Insipiens". Ou seja, um hominídeo que, apesar de sua inteligência, perdeu a sabedoria e a capacidade de viver em harmonia com o planeta que o sustenta.

HOMO SAPIENS E AS REDES SOCIAIS

Os comportamentos atuais dos "Homo Insipiens" reproduzem uma série de características que se afastaram da sabedoria e da adaptabilidade social.  A seguir, estão os principais comportamentos que observa-se nestes espécimes:

1. Busca por Validação Social

Um dos comportamentos mais marcantes do Homo Insipiens é uma busca incessante por validação através de curtidas, comentários e compartilhamentos. Essa necessidade de aprovação e validação social leva, sem dúvida, a uma superficialidade nas interações. É, em suma, um mundo onde a quantidade de interações se torna mais importante que a qualidade das relações pessoais.

2. Compartilhamento de Desinformação

O compartilhamento de informações sem verificação é um comportamento comum para os fanáticos digitais. Estes exemplares de Homo Insipiens frequentemente propagam notícias falsas ou enganosas, contribuindo para a desinformação(4). Essa tendência recrudesce pela facilidade de disseminação de conteúdo, com a velocidade que supera a verificação da informação.

3. Polarização e Conflito

As redes sociais tendem a criar bolhas de interesse, onde o Homo Insipiens se envolve em discussões polarizadas. Esse comportamento significa um ambiente hostil, onde qualquer diálogo racional desaparece. E, nesse ínterim, surgem os ataques pessoais, o desdém por opiniões divergentes e a indiferença pelos que representam o Homo Sapiens real.

4. Superexposição Pessoal

A superexposição nas redes sociais é outro comportamento característico dos insensatos e insanos. O Homo Insipiens compartilha detalhes íntimos de sua vida, raramente considerando as consequências. Essa necessidade de se exibir constantemente leva a problemas de privacidade e à construção de uma identidade da imagem pública. Enfim, o sociopata entende que seus valores pessoais nas redes são uma imagem ideal do que ele almeja.

5. Dependência da Tecnologia

A dependência excessiva de dispositivos, plataformas digitais e novas tecnologias é um traço distintivo do Homo Insipiens. Esse comportamento acarreta em dificuldades nas interações sociais no mundo real. Uma vez que muitos preferem se comunicar virtualmente, em vez de pessoalmente, prejudicam, sem dúvida, suas habilidades sociais e emocionais.

6. Consumo Passivo de Conteúdo

O consumo passivo e sem crítica de conteúdo, onde são meros espectadores em vez de participantes ativos, é comum entre os não-pensantes. O Homo Insipiens tende a consumir informações e entretenimento sem reflexão, o que leva a uma imensa fartura de ideias sem fundamentação.

7. Comparação Social

A comparação constante com os outros é, surpreendentemente, um comportamento que afeta a autoestima do Homo Insipiens, com efeitos graves. A exposição de vidas aparentemente perfeitas nas redes sociais gera sentimentos de inadequação e insatisfação pessoal. Desse modo, o ciclo de comparação social e descontentamento é crescente e sem saída.

8. Ativismo Digital Superficial

Embora muitos indivíduos estejam envolvidos em causas sociais, o ativismo digital muitas vezes se resume a postagens, sem nenhuma ação concreta. O Homo Insipiens parece perceber que está, de fato, contribuindo para uma causa apenas por meio de um clique. Por outro lado, ele realiza atividades virtuais sem nenhum compromisso real ou ações que fazem a diferença para outras pessoas.

PERDEMOS !

Em suma, podemos dizer que esses comportamentos do Homo Insipiens nas redes sociais indicam uma desconexão com a sabedoria e a inteligência. A superficialidade nas interações, a propagação de desinformação e a dependência da tecnologia são sinais do extermínio da espécie humana. Em outras palavras, estamos nos afastando de nossas raízes mais sábias de conhecimento e evolução. É provável que para resgatar essa qualidade, tenhamos que provocar o choque de um meteoro com o planeta. Notadamente, a promoção de processos de reflexão crítica sobre o uso das redes sociais não está funcionando.

Éramos Homo Sapiens, a evolução demorou milhares de anos, e em poucas dezenas perdemos muito. Maldita Inclusão Digital !

"Amanhã tem mais ..."

P. S.

(*) Cientistas e pesquisadores, como Darwin, estão na linha contrária de religiosos que, embora hominídeos, não-negacionistas, quase inumanos.

(1) "Entre Sem Bater - Yuval Noah Harari - Simplesmente, éramos Homo Sapiens" em https://evandrooliveira.pro.br/wp/2024/09/11/entre-sem-bater-yuval-noah-harari-simplesmente-eramos-homo-sapiens/

(2) "Entre Sem Bater - Harari - Seres Humanos" em https://evandrooliveira.pro.br/wp/2023/04/23/entre-sem-bater-yuval-noah-harari-seres-humanos/

(3) "Entre Sem Bater - Thomas Buckle - Ordem de Inteligência" em https://evandrooliveira.pro.br/wp/2024/04/19/entre-sem-bater-thomas-buckle-ordem-de-inteligencia/

(4) "Entre Sem Bater - J. K. Rowling - A Desinformação" em https://evandrooliveira.pro.br/wp/2024/03/15/entre-sem-bater-j-k-rowling-a-desinformacao/