FARELO DE AÇÚCAR - BVIW
FARELO DE AÇÚCAR
O dia estava para lá de exaustivo. O sentia nos filamentos dos joelhos e na alma exaurida. De um banco a outro e conversa com estranhos sem muito resultado, restou a ideia de um café puro. Que puro mesmo, quase nada mais é neste mundo. A lanchonete estava cheia de corpos cansados. Se sobre eles pairasse uma sombra, seria feito uma noite depois que cobre um dia, junto ao peso de todos os semblantes daquela tarde quente.
Uma moça me ofereceu um assento em sua mesa onde sentava com outra. Agradeci mas continuei a andar com meu café de pé junto aos infortúnios do dia e do outro que não veria um show que tanto queria. Sem falar na mulher adoecida. Mas tá, ia ver a dupla imperdível comigo. Ia… ia… engraçado como um “ia” se parece com um “se”. Se não gripasse, se não adoecesse… “E agora José, José para onde?” Não seria melhor descansar as pernas?
Voltei à mesa das moças e aceitei o assento. Ela tinha dito: - Senta aí! Será que tinha lido meu desassossego? Minha falta de brilho nos olhos, meu estado de perdição? É quando engolimos tudo. O certo e o errado e decidimos pelo certo mesmo não recebendo a gratidão de ninguém. De qualquer forma senti ternura pela moça que ofereceu o assento. Ainda existem pessoas boas. - moça, vou sentar sim,. E pensei: obrigada por significar um farelo de açúcar neste dia deserto e seco.