Um fim da tarde no passado !
Antigamente as tardes eram sempre mais brilhantes e coloridas, o café com pão servido a mesa, com cheirinho de mãe sempre aliviava minha fome infantil.
Lembro-me da primeira bicicleta... uma Caloi preta serie ouro (que aliás não sei porque era preta. Deveria ser dourada ) tinha farol , buzina e rádinho am/fm. Verdade !
Um sucesso entre as meninas do bairro.
As vezes acho que a infância dura apenas um momento. E achamos que durou a medida da primeira decepção !
As manhãs frias eram protegidas com um agasalho Adidas azul marinho e Kichute com o cadarço infinitamente enorme, dando voltas sobre os pés ( isso sempre) era moda E quem se arriscaria fazer diferente .
Tive uma namorada sim, Martinha o nome dela ... namoradinha é claro. Foi meu primeiro beijo e olha que foi só no rosto mas tremi uma semana inteira.
Naquele tempo tremor ainda era apenas emoção ou medo. Tesão vem muito depois,
e confesso que sinto falta de quando não conhecia o tesão.
Ir pra escola pra mim sempre foi complicado, afinal adorava a liberdade da rua, mas estudei o suficiente. Hoje vejo que poderia ter estudado mais e brincado mais.
Lembro das corridas pelo quarteirão. Lembro da correria que a turma de baixo nos impunha , eram meninos mais velhos, todos com seus 12 pra treze anos ( pra nós uma assombro de velhice já ) como nossa visão muda.
Penso nos amigos que ainda vivem no recôncavo da memória:
Os vários Zés e Joãos, Pedrinhos aos montes... Gilson, Gelson, Carlinhos, Carlitos e por aí vai. Que foi feito deles ?
Quantos médicos saíram dali ? Advogados, engenheiros... policiais, bancários. Enfim... Somos a mola do mundo. Sempre somos !
Lembro do cachorro do vizinho que botava a gente pra correr todo dia.
E nossa, como eram boas as peladas jogadas na rua, carros quase não passavam e se passavam sempre esperavam pra ver se a jogada terminava em gol!
Existia o Dr Sidharta um nem sei o quê, porque não lembro mais. Tinha medo dele, achava que era um profeta ou algo parecido. Isso por causa do nome " Sidharta "
Em minha casa existiam aquelas cadeira feitas com cordões de plástico, que ficavam na varanda , e minhas tias ficavam tricotando com fios feitos de saquinho de leite Leco.
Eu achava aquilo chique !
Meu pai chegava do trabalho e sentávamos todos a mesa pro jantar, era o máximo, sentia que meu líder, meu herói havia chegado. Erámos em 3 irmãos, e eu claro era o mais novo. Divertido esse momento. Ficava olhando meu pai admirado. Pra mim estava diante de um Deus. Ri muito naquela mesa. Acho que nunca ri com inocência na vida como naqueles momentos.
As 7 da manhã em ponto o padeiro passava numa kombi branca, chamando a todos em seu falante. Só ele pra me acordar essa hora. Aquele cheiro invadia a rua, impossível esquecer. É...doce infância recheada de pão doce !
Cresci assim. Entre minha Caloi especial e meus Kichutes.
Entre amigos e namoradinhas
Cresci na escola ou matando aula..
Cresci com meus pais a mesa e entre tias na varanda.
Cresci pelos quarteirões da infância
Cresci entre peladas de meia .
Cresci entre Doutores ou muitos “ ninguéns “
Mas aí a primeira decepção chegou e enterrou minha infância no fundo da memória.
Ainda passo pelo bairro, a rua está lá, a casa está lá. Nossos nomes ainda gravados nas mesmas árvores.
E embora eu possa hoje pegar meu carro e passear pela rua, desde que cresci jamais lembrei o caminho de voltar !