O DIA EM QUE NADA FOI DITO

 

Eu me lembro perfeitamente daquele dia. Não houve palavras, mas a mensagem estava clara. Não sei dizer se foi o jeito como ela desviou o olhar ou a maneira como nossas mãos, outrora tão próximas, pareciam ter se tornado estranhas entre nós. Tudo ao nosso redor continuava, mas dentro de mim havia uma pausa, uma suspensão no tempo que me deixou com uma sensação que ecoaria por muito tempo. Foi o silêncio que disse tudo.

 

Os gestos, esses pequenos movimentos que muitas vezes ignoramos, carregam em si uma carga poderosa. O modo como alguém franze o cenho ou cruza os braços pode ser tão revelador quanto as palavras. Já percebi que, em muitas situações, quando as palavras falham ou são retidas, o corpo entra em cena, comunicando tudo o que não se ousa dizer. Um simples desviar de olhar pode ser mais doloroso do que qualquer discussão acalorada.

 

Há um momento em que as palavras parecem insuficientes, e é nesse vazio que os gestos ganham vida. Lembro-me de uma conversa que não aconteceu, onde o silêncio foi interrompido apenas pelo leve toque de uma mão no braço. Um gesto rápido, quase imperceptível, mas que, naquele instante, foi uma súplica por compreensão. Eu senti naquele toque uma saudade, uma vulnerabilidade que nunca teria sido admitida em voz alta.

 

Da mesma forma, há vezes em que o afastamento físico já diz tudo. Uma distância criada em um sofá, um espaço maior entre os corpos, fala sobre sentimentos reprimidos, mágoas não resolvidas. Nesses momentos, não são necessários discursos eloquentes. O que não foi dito se faz sentir na ausência de proximidade, no vazio que se forma entre as pessoas.

 

A linguagem dos gestos é sutil, mas é inegável. Como quando alguém te abraça mais forte antes de uma despedida, tentando manter em silêncio tudo aquilo que não consegue expressar em palavras. Ou quando um sorriso pequeno e triste aparece no rosto de alguém que está tentando fingir que está tudo bem. São nesses mínimos gestos que encontramos as maiores verdades, aquelas que, talvez, a voz nunca consiga alcançar.

 

E naquele dia, quando nada foi dito, eu compreendi que os gestos haviam falado por nós. Não houve uma despedida formal, mas o silêncio entre nós se alargou, preenchendo o espaço com tudo o que ficou por dizer. A ausência de palavras foi a confirmação que eu temia, e a dor do que não foi falado permanece viva até hoje. Porque, às vezes, o que não é dito é exatamente o que mais precisa ser entendido.

Prof Eduardo Nagai
Enviado por Prof Eduardo Nagai em 10/09/2024
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