Sobre Baianos
Apesar de a grande dificuldade em elaborar textos de humor, mas devido ao fato de estar prestes a encerrar meu 84° ano, no gozo dessa saborosa aventura, viver a vida e, portanto, já ter perdido o medo de exposição ao ridículo, vou insistir no registro de mais uma piada, muito conhecida sobre os baianos. Mais especificamente, sobre o ritmo dos baianos.
Os que sofrem de hipotireoidismo entendem muito bem sobre ritmo, pois enquanto não repõem a carência desse hormônio, são tidos como “marchas lenta”, “33 rotações por minuto”, “sonecas” ...
Os protagonistas são dois saudosos, mas imortais seres, que confirmam a genialidade nordestina, em especial a baiana: Jorge Amado; e Dorival Caymmi.
Jorge Amado, um dos mais famosos e traduzidos escritores brasileiros. O autor mais adaptado para o cinema, teatro e televisão.
Jorge Amado, que encantou os que outrora, meado do século passado, foram a juventude de uma geração que vem progressivamente se transformando em saudade. Juventude encantada pelo amado Jorge, com a magia de seus jubiabás, capitães de areia, com suas terras dos sem-fim, com suas searas vermelhas, seus subterrâneos da liberdade, seus ásperos tempos, com as esperanças (de todos) num cavaleiro ...
Juventude que, já adulta, bisou esse encantamento, quando parte significativa de sua obra se transformou em peças de teatro, novelas, vídeos e filmes: “Capitães de Areia”, “Dona Flor e Seus Dois Maridos”, “Tenda dos Milagres”, “Tieta do Agreste”, “Gabriela, Cravo e Canela”, Tereza Batista Cansada de Guerra...
Dorival Caymmi, cantor, compositor, instrumentista, poeta, pintor e ator brasileiro. Compôs inspirado pelos hábitos, costumes e as tradições do povo baiano.
Quem dessa mesma geração, hoje prestes a se tornar octogenária, ou nonagenária, não se maravilhou com tantos cantos de encantamento pelo mar, tornando até doce nele morrer; de esperança de jangadeiros nele entrando; a mulheres como Marina, Doralice, Rosa, Morena.
Quantos e quantos se emocionaram com seus cantos sobre a Bahia, baianos e sobre “coisas brasileiras”: “quem não gosta de samba, bom sujeito não é, ou é ruim da cabeça, ou tem bicho no pé”...; “ai, ai que saudade tenho da Bahia, “ai se escutasse o que mamãe dizia”...; “o que é que a baiana tem? Tem saia engomada tem, tem, sandália enfeitada tem, tem graça como ninguém” ...; “Eu vou pra Maracangalha, eu vou, eu vou de liforme branco, eu vou” ...
Quem, se paraense, e que fez parte daquele grande fluxo migratório Belém – Rio, não tentou dissimular as lágrimas, quando, na Casa do Pará, centro do Rio de Janeiro, tocava: “tomei um Ita no Norte, pra vim pro Rio morar, adeus meu pai minha mãe, adeus, Belém do Pará...”
Sobre a ironia ao ritmo dos baianos, tomando esses dois ícones de sua genialidade como ilustrações caricatas, assim contam...
Dorival e Jorge eram amigos de longa data. Prezavam e mantinham essa amizade em encontros, na maioria das vezes no casarão de Jorge.
Num desses encontros, num final de semana, enquanto proseavam deitados em duas das redes espalhadas pela varanda, que circundava o cassarão acolhedor de Jorge, este, aproveita o encerramento de um dos assuntos da insubstituível e agradável prosa, e perguntou, no tom e ritmo da melodia do falar baiano: Dori, minha braguilha está aberta? Dorival responde: tá não Jorge.
Então, Jorge responde, sinalizando que a prosa poderia continuar: então, faço xixi, depois...