A Despedida Que Não Esperávamos
Nunca imaginei que choraria numa despedida que não fosse definitiva. Quando penso em algo definitivo, refiro-me àquele momento em que uma pessoa amada se transforma numa "estrelinha", partindo para sempre do nosso convívio terreno. O que houve, então, para que essa despedida tenha me tocado tão profundamente? Estamos morando em uma cidade distante de nossos filhos e respectivas famílias. Estivemos com eles por várias semanas, "de férias", aproveitando cada momento, sabendo que o retorno inevitável se aproximava. Era como se o relógio tivesse ganhado uma força maior, acelerando os dias até aquele fatídico momento da partida.
Na véspera de nossa viagem, passamos o domingo com nossa netinha Maria Luiza, de apenas 5 anos, e seus pais. Aquele dia foi repleto de momentos ternos e inesquecíveis. Maria Luiza, com sua inocência e pureza, parecia ter uma percepção aguçada do que estava por vir. Durante a tarde, ela se achegava em nós, acalentando-nos com seus abraços sinceros, suas brincadeiras cheias de riso e alegria. Mas, ao mesmo tempo, percebemos algo em seus olhos, um reflexo de tristeza que só as crianças são capazes de demonstrar sem palavras. Era como se, no fundo, ela soubesse que algo estava prestes a mudar.
Quando a noite caiu, chegou o momento mais temido: a despedida. Maria Luiza, de repente, agarrou-se a nós, num abraço apertado que parecia querer nos segurar para sempre. Seus olhinhos, antes tão brilhantes, se encheram de lágrimas, e foi impossível conter o nó que se formava em nossas gargantas. Eu e minha esposa, Mira, tivemos que nos esforçar para não chorar ali, na frente dela. Sabíamos que a separação era temporária, mas naquele instante, a distância que nos separaria parecia imensa, quase insuportável. O peso de deixar para trás aquela pequena alma, que tanto amamos, era maior do que qualquer despedida definitiva que eu pudesse ter imaginado.
No carro, enquanto nos dirigíamos à casa de nossa outra filha, onde estávamos hospedados, o silêncio tomou conta. Até que as lágrimas, finalmente, vieram. Choramos por Maria Luiza, por sua inocência, por sua tristeza tão sincera. Choramos por não poder estar sempre presentes, por sermos levados pela vida a estar longe daqueles que amamos.
Mais tarde, já em casa, Mariana, nossa nora, postou uma foto nos stories. Era uma imagem que capturava perfeitamente o que sentíamos. Maria Luiza estava sentada entre mim e Mira, seus pequenos braços entrelaçados aos nossos, e um rosto de pura tristeza. Era como se ela soubesse que aquela despedida não seria para sempre, mas seria dolorosa mesmo assim. Ao ver a foto, choramos novamente.
Mira, tocada profundamente, escreveu em resposta: “Meu Deus! Eu nunca imaginei me emocionar tanto com uma despedida. Não foi uma despedida definitiva, mas o até breve foi extremamente doloroso. A tarde toda, parecia que Maria Luiza já sabia da separação temporária. Sempre que eu lembrar da despedida de hoje, eu vou chorar. Se eu não sabia o que era amor, hoje ele chegou em mim, e jamais me largará. Escrevo essas palavras com as lágrimas correndo. Maria Luiza, vovó te ama ao infinito!”
Eu, por minha vez, também não pude deixar de expressar meus sentimentos: “Amanhã, ou depois, eu vou escrever uma crônica sobre este momento absolutamente inédito na minha vida. Nunca havia chorado por uma despedida temporária. Se eu não sabia o que era amor, Maria Luiza hoje me abriu o coração e colocou lá dentro. Que despedida emocionante, inesquecível. Maria Luiza, vovô te ama. Breve estaremos de volta. Se Deus quiser!”
E assim, essa despedida temporária tornou-se um dos momentos mais emocionantes da minha vida. Não porque foi longa, não porque foi definitiva, mas porque revelou a profundidade do amor que sentimos por nossa neta. O amor, que por vezes não sabemos medir, nos surpreende em momentos simples, como um abraço de adeus. E agora, cada vez que eu pensar naquela despedida, saberei que o amor que sentimos por Maria Luiza transcende qualquer distância ou tempo de separação.