Tenho fome!

A fome, invisível aos olhos de muitos, é um grito abafado nas ruas. Em uma esquina qualquer, entre o barulho dos carros e a correria das pessoas, há uma barriga que ronca. Não é só um estômago vazio, mas uma vida que se esvai em lentidão. E enquanto tantos lutam pelo excesso, outros mendigam migalhas.

 

Vivemos em um mundo onde o desperdício é banalizado, onde os alimentos sobram nos pratos dos privilegiados e apodrecem nos mercados. O curioso é que essa abundância poderia ser suficiente para todos, se fosse distribuída com justiça. Mas a lógica cruel é outra: o lucro fala mais alto, e o supérfluo se sobrepõe ao necessário.

 

Na televisão, uma propaganda de um restaurante luxuoso mostra pratos exuberantes, decorados como obras de arte. Logo depois, o telejornal exibe crianças esquálidas, de olhar vazio, que esperam por uma refeição que talvez não venha. O contraste é gritante, mas parece que já nos acostumamos a ele. A fome é algo distante para quem pode escolher o que comer, mas é uma realidade cruel para milhões que sequer sabem o que será o amanhã.

 

Nos centros urbanos, vemos a fome em rostos marcados pela indiferença. Nos rincões do país, ela se esconde em lares silenciosos, onde mães fazem malabarismos com panelas vazias, tentando transformar o nada em alguma coisa para alimentar seus filhos. A fome humilha, rouba a dignidade, faz o ser humano lutar pelo básico.

 

E, no entanto, há tanto a ser feito. A fome não é inevitável. É fruto de escolhas políticas, de um sistema que privilegia alguns e deixa tantos outros à margem. O direito à alimentação está escrito nas leis, mas, na prática, parece um luxo inalcançável para muitos.

 

A fome não é só a falta de comida no prato; é a falta de oportunidade, de emprego, de acesso à educação. É a consequência de um ciclo de exclusão que se perpetua. E, até que isso mude, a fome continuará sendo uma vergonha social silenciosa, escondida nas esquinas da sociedade que prefere não olhar.

 

O que falta não é comida, mas humanidade.

 

                                                      Angélica Lima

Angélica Lima
Enviado por Angélica Lima em 09/09/2024
Reeditado em 09/09/2024
Código do texto: T8147820
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