Abro a Geladeira Pra Pensar

Sábado a tarde no frio ou no calor.

De madrugada depois de assistir filmes.

Ou quando passo pela cozinha só por passar.

Não aguento ver ela de canto paradinha.

Mesmo depois de ter aberto a geladeira tantas vezes que decorei tudo o que tem dentro, leite ao lado do refrigerante, em cima dos frios, do lado da melancia que emperra a porta cheia de ovos, maionese, água, requeijão e a luz apaga a porta se fecha e começe a contar até o próximo não resistir a tentação de abrir a geladeira.

Ela exerce uma força quase sobrenatural por todos que a rodeiam.

Talvez ela guarde aquilo que desejamos e não podemos nem pensar em fazer, comer ou por pra fora.

Todo mundo deve ter uma geladeira por dentro, de sentimentos frescos, frios congelados, uns a tempos guardados, outros quase congelando, mas que com certa frequência também são vistoriados, verificados, refletidos sobre as possibilidades de usa-los de alguma forma, reforma-los, tempera-los, ou muda-los de lugar ao chegar novos sentimentos e sair alguns por lá a tempos.

Talvez abrimos a geladeira para ver as possibilidades, lidar com as realidades - esta vazia- e fazer planos futuros -comprar mais sorvete-.

Mas penso na tristeza da cozinha sem esse momento de reflexão proporcionado por esse eletrodomestico tão importante.

Talvez o frio e a luz tragam a tona momentos de lucidez, ou seja apenas aquele pré-prazer de comer, mesmo quando sabe que só irá fazer sua ginastica diaria de flexionar e esticar o braço na direção da geladeira.