DIAS SEM INSPIRAÇÃO
Acho que quando amanhece os pássaros que passaram a noite descansando nas copas de nossas mangueiras a levam, talvez a joguem em qualquer lugar por mero despeito. Sabe lá! Eles conhecem as estradas do céu e do alto sondam, buscam e logo vêem o local mais adequado para onde joga-la. Por isso desnorteio-me da inspiração. Às vezes me pergunto por que fazem essa barbaridade, o que os leva a privarem-me de viajar poesias afora, mas realmente não sei, nunca entendi o comportamento dos pássaros.
Ao anoitecer, correm as estrelas cadentes a esconde-la de mim, até elas! Provavelmente a entocam na lua, dispersam na escuridão da noite ou guardam para si mesmas. Quem sabe? Mas não consigo colocar em perspectivas o motivo para tanto. Serve de que para elas a inspiração? Tenho a impressão que aquelas invejosas também detestam minhas poesias, os textos, as meras tentativas prosaicas de contextualizar algo coerente. Decididamente não escrevo bem, ora nem as estrelas além dos pássaros me lêem, e ainda por cima roubam de mim a inspiração. Que coisa!
Tudo bem, prescindo de todos eles como leitores, descansam no leito dos meus olhos meus, são rabiscos brotando e nascendo para mim mesmo, pronto, então os leio duas, três vezes, depois guardo por aí e esqueço. Qual é o problema desses pássaros e das estrelas? Pois se jamais ensejei inveja a ninguém, mormente no tocante aos que tais! Tudo bem, voadores e astros, deletem-me a inspiração, não me importo, escreverei outro dia se por acaso eu surrupiar de vocês, com todo direito, a inspiração que roubaram de mim.