Criança diz cada coisa!
Há muito tempo atrás o médico pediatra, jornalista e dramaturgo Pedro Bloch tinha uma página na revista Manchete com o título acima. Contava histórias engraçadas e inusitadas acontecidas com crianças que passavam pelo seu consultório. Nasceu na província de Jitomir, Ucrânia, 1914, veio criança para o Brasil e faleceu no Rio de Janeiro, aos 90 anos, no dia 23 de fevereiro de 2004. Ele foi para o céu, mas as histórias que ouviu e documentou ficaram e cresceram em volume, muitas que ele não ouviu, mas que os pequeninos continuam a dizer.
Um dia deste recebi em casa uma criança de uma visitante da cidade. Com o pai nascido em Macaúbas, no Sudoeste da Bahia, Joana tem sete anos completados agora, e é filha de mãe paulista. A família veio a passeio a Guanambi, cidade da mesma região da Bahia, em visita de férias a vovó Lió que nesta cidade reside. A criança naturalmente alegre e conversadora encontrou aqui Sammhyra, nascida no Sertão, também com sete anos e igualmente extrovertida logo travaram uma amizade de férias. As duas passaram a freqüentar a sombra de uma frondosa mangueira, que em janeiro ainda oferta deliciosos frutos da temporada.
Histórias para lá e histórias para cá entre as duas, e era o tal “meu pai me deu, meu pai me levou, meu pai é meu herói”, que bom! A outra igualmente contava as vantagens dos pais! Os adultos orgulhos contavam as histórias dos filhos, enquanto as crianças mostravam seus novos brinquedos, coisa de papai Noel, papai José e papai Pedro, e a depender dos momentos as mamães também eram as lembradas. “Minha mãe é professora” e outra rebatia: “A minha faz jornal, mas me ensina”. Está certa Sammhyra; quem faz jornais são os jornalistas!
Aos poucos foram percebendo entre elas o sotaque diferenciado. Uma falava porta secamente, outra enfiava um “i” no meio das palavras; “poirta” e na hora do almoço “cairne”. E a maneira interessante de falar, diferente, chegou a cada uma em forma de curiosidade e vontade de imitar uma a outra. Horas e horas e palavras trocadas e faladas repetitivamente. Foi assim que os grandes perguntaram o que as meninas faziam: “Ela vai me ensinar falar paulista e eu vou ensinar a ela falar baiano”!
A coleção de citações do Dr. Pedro Bloch tem muita chance de nós, observadores, faze-la crescer!
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Seu Pedro, jornalista, pai de Sammhyra, reflete que os pais, tios, irmãos mais velhos, etc., devem se desocupar das ativadades de adultos e ouvir mais a sabedoria das crianças"