Atrasada

Era uma manhã fresca e gentil, meu rosto refletindo-se no espelho das águas do mar Mediterrâneo, com ares de Olimpo. Era impossível não se sentir tocada, diante de tamanha beleza. Fechei os olhos, escutei os pássaros e me entreguei às agradáveis sensações que formaram um caldo dentro de mim. Como se uma lâmpada mágica se acendesse, corri desesperada atrás de caneta e papel e comecei a escrever e desenhar ali mesmo, criando rodas e mais rodas de sistemas lógicos que se autoalimentariam e restaurariam vários setores econômicos simultaneamente. Estava gerando um milagre! Sou mesmo uma economista foda!

Então, você se aproximou, vestindo shorts de oncinha e regata preta, uma garrafa de vinho na mão e um sorriso latino. Ignorou meus papéis e me abraçou contra a parede: "Amor, me dá um beijo?" Respondi que estava escrevendo algo muito importante e pedi paciência, pois a noite seria só nossa, e o iate seria o nosso mais novo brinquedo. Você pegou meus papéis e jogou-os no mar. Confesso que congelei. "Você sabe o que fez?" Tentei perguntar com os olhos arregalados, mas seu olhar melindroso e sapeca me enfeitiçou e, como se não bastasse, me beijou.

Naquele momento, entendi: nada importa, nada mais importa, depois de você ter salvo o meu mundo e eu ter salvo o seu. Você me conhecia tão profundamente que me tornei incapaz de te negar amor. Então, nos amamos ali mesmo, com o mar, os pássaros e o vento como nossos amigos voyeurs. E então, depois da avalanche de desejo, umas taças de vinho e um bom macarrão italiano, veja só, criei uma solução ainda mais genial!

E então...

Acordei.

Estou sozinha no quarto, você não existe. Tudo foi uma ilusão. Meu gato mijou no chão da sala. Estou atrasada.