Desencanto...
O céu estava vermelho hoje na hora do pôr-do-sol, mas não era um avermelhado bonito. Estava vermelho e cinza e o ar sujo e quente. Não era a poluição, era alguma coisa pior e maia triste, que sufocava toda gente só de olhar. Mais abaixo os pés de ipê amarelo cercavam toda volta onde as vistas podiam alcançar. Dias antes os ipês rosas também enfeitavam lindamente esta paisagem, que agora é só tristeza, mas não por causa de sua ausência, pois ainda estão lá, apenas não querem mais florir, desistiram depois da última e escassa chuva. Choram, é verdade.
Despontou no céu aquela primeira estrela que sempre vem primeiro, e é também a primeira que se vai. Apressada? Não sei. Triste, talvez, pois talvez, sempre um talvez. Talvez esperasse que houvesse alguém esperando para vê-la brilhar. Como não existe ninguém mais disposto a olhar o céu, ela vem, esperançosa, mas logo se vai se recolher nos seus melhores sonhos, de amanhã, agora mais um, talvez, haja um só humano a lhe esperar.
Escondeu-se a estrela, e o brilho vermelho-cinzento do céu se apagou em uma negritude imensa de solidão. A pobre lua minguante também não tem ninguém a lhe olhar e chora docemente transitando o firmamento à espera do seu astro-rei, quando este finalmente chegar. Chegar e queimar toda essa gente que não pára mais para olhar pela doce natureza...