"HOJE É O SEU DIA, QUE DIA MAIS FELIII-IIIIIIIIISSSS…"



A festa de aniversário moderna é assim: os adultos montam o som... Depois os adultos e as crianças (convidadas) chegam. O aniversariante geralmente mal sabe o que está acontecendo em sua volta; ou já se embebedou de Coca-Cola muitas horas antes do meio-dia. As crianças são forçosamente apresentadas umas às outras e se odeiam por exatamente... 5 minutos. Os adultos sentam educadamente em suas mesas. E também se detestam.


No momento seguinte os adultos começam a pedir cerveja, após vários minutos de constrangimento conversando com pessoas praticamente desconhecidas. E as crianças começam a brincar e correr - isso se dá, frente ao efeito da interação "refrigerante + piscina de bolinhas = insanidade temporária" que causa vertigens e uma espécie de frenesi.


Uma senhora de idade ficará plantada de vigia na mesa de doces; como um soldado no Vietnam jamais o faria. E dará tapas nas mãos de qualquer criança que se aproxime, dizendo aos berros: "NÃO TÁ NA HORAAA!!!", "SÓ DEPOIS DO PARABÉNS!! NÃO TÁ NA HORA, NÃO!! VÁ BRINCAR!!!", "CÊ NÃO VEIO PRA COMEEER, CÊ VEIO PRA BRINCAAAARR!!!!!"... geralmente essa "tia" é escolhida inconscientemente pelos adultos organizadores da festa, principalmente pelo fato de que ela ODEIA crianças...


Enfim, é chegada a hora do "PARABÉNS". Ya-hoo!!! É como uma catraca do inferno que se abre e não tem mais volta.

 

***


O PARABÉNS foi batido, agora os adultos estão bêbados e íntimos, marcando vários "... um dias a gente sai junto..." e começam a mexer no som, tirando as musicas da Xuxa e do Grupo Molejo e colocando música sertaneja ou pagode. As crianças comem brigadeiros, bem-casados, bolo e etcs e se tornam Gremlins. Ficam em total estado de possessão e já não há mais sentido algum nas brincadeiras inventadas. Elas simplesmente correm por todos os lados e gritam enlouquecidamente. A cerveja acaba (pois aniversário de criança tem pouca cerveja, já que 80% do dinheiro da festa foi investido na piscina de bolinhas); o açúcar vai descendo e as crianças começam a cafangar, chorar, pedir pra ir embora ou na melhor das hipóteses, desmaiam.


De repente uma criança dá um imenso, homérico, chilique. Esse chilique é como sonar que golfinhos usam pra se comunicar. O restante das crianças entendem que também podem dar chiliques. A coisa toda vira uma confusão e antes que as crianças acabem assassinando um adulto, a mãe ou o pai do (a) aniversariante calmamente vai retirando as comidas das mesas e apagando algumas luzes... a "tia" (a mesma tia do bolo) grita: "TEM LEMBRANCINHAAA!!!!", "TEM LEMBRANCINHAAAAAAAAAARGHHH!!!" e as crianças ficam agoniadas pra ir embora só pra receber a lembrancinha que vale menos que aqueles robozinhos de montar, que vem dentro do Kinder Ovo. E bem menos que um Mac Lanche Feliz. Saem da festa sorrindo, babando bestamente, dopadas... ou já dormindo no colo. Os pais entregam as chaves para as mulheres, que também estão bêbadas, mas eles querem culpar alguém se algum acidente acontecer e a criança ainda não dirige. A noite feliz acaba…


O "vamo marcar qualquer dia aí..." é imediatamente esquecido quando se dão conta de que foram embora sem saber o nome e telefone de ninguém na festa.

 

Henrique Britto
Enviado por Henrique Britto em 04/09/2024
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