Lar de idosos XX
E a minha amiga como está?
Não me fala dos acontecimentos relacionados à sua mãe. Parece que bloqueou sua mente. Eu não insisto.
Ontem ela veio conversar comigo e me fez uma pergunta: 'Quem sou eu?'
Comecei a listar tudo o que sei dela... comecei com o nome... falei de sua vida profissional... e ela ficou me olhando com seus olhos sempre tão expressivos, sem qualquer expressão... ela estava com um olhar vago, sem foco e vazio de tudo, como se a estivesse a milhas e milhas distante do ambiente ao seu redor.
Não sei se aquele olhar indicava um estado de confusão, desorientação ou distração mental... ou se era um sinal de introspecção, reflexão ou contemplação da própria alma...
Daí ela me disse:
- Sou mentirosa.
Claro que eu retruquei... conheço-a muito bem e sei que ela não é mentirosa... pode até ter dito uma mentirinha aqui ou acolá... omitido, seria a melhor palavra nesses casos. Mas, definitivamente, mentirosa ela não é.
- Sou mentirosa sim. Cravei uma máscara em mim. Percebi que só assim consigo conviver com as pessoas... preciso conviver com as pessoas, então cravei uma máscara em mim. Quando estou com alguém a máscara se deixa ver com toda a sua intensidade... a máscara da felicidade. Nesse mascaremento emocional sou forte, evito conflitos, evito ser magoada. Exibo uma fachada colorida, cheia de vida... Percebi que se quero manter 'amizades' tenho que me travestir de feliz. Isso é tão triste.
Eu só fiquei olhando pra ela... acho que qualquer coisa que eu dissesse seria inapropriado. Tantas coisas há pra ser dito... mas, no fundo, no fundo... acho que concordo com ela. Temos de colocar máscaras... que viver triste esse.
Poderemos um dia jogar as máscaras pela janela do trem e deixá-la pra trás e seguir viagem pra novas paisagens com nossa cara de alegria ou tristeza sem nos importar de como iremos ser julgados?
Sei lá...