A Flor no Fim do Mundo
Deus
– Você tem certeza de quer mesmo partir? Deixar esse mundo físico, material, esse invólucro de carne sustentado por um esqueleto? Tem certeza?
Eu
(Pensativo) – Quase certeza. Quase. A tua pergunta, Cara, me deixou perplexo. Estou assustado agora. Eu não tenho mais essa certeza louca dentro de mim. Eu queria aproveitar um pouco mais a vida, sabe? É. Viajar mais, viver ao lado da minha menina, cuidar melhor dos animais que resgatei...
Deus
(Me olhando sem piscar; parece igualmente pensativo; isso me assusta mais do que a morte em si mesma) – Ora, ora... Você tem que decidir. Eu sou muito ocupado. Vamos: e então?
Eu
(Vontade de ir ao banheiro fazer o número 4 [duas vezes o número 2]) – Eu vou ficar por aqui. Tá tudo bem.
Deus
(Mais calmo e compreensivo; quase rindo) – Tá. Fique em paz. (Fala Consigo mesmo agora) – Esse aí não sabia que tinha muito chão pela frente. E que eu reservei momentos de grande felicidade no fim de sua vida. Irá embora, sim. Mas com uma idade um pouco mais avançada do que imagina. Vai com Deus, meu Filho, vai...