Não cura, mas soluciona...
Houve época em que a Psicoterapia de Grupo era muito utilizada na “Paulicéia Desvairada”. Existia uma clínica muito badalada, que funcionava nas proximidades da esquina famosa, Avenida Paulista com Rua Augusta.
Participava de um desses grupos: Roberto, mestiço de imigrante irlandês com paulista de Peruíbe, cidade litorânea, com características físicas que demonstravam, sem moderação, sua ancestralidade indígena; e Mariana, neta de filhos de imigrantes alemães.
Roberto apesar de ter entrado no grupo bem depois de Mariana, falava demais sobre seus grilos e fantasmas. Mariana era muito mais ouvinte, até parecia estar ali, não como assistida, mas como psicanalista em treinamento.
Por este comportamento aberto, transparente, em poucos meses, todos vieram ter acesso ao perfil de Roberto: muito bonito, inseguro, violento, com dificuldades muito grandes de relacionar-se tanto com o pai, quanto com a mãe, que tinha enurese noturna com frequência e nas saídas do grupo, nos poucos minutos de superficial convívio, rejeitava as investidas de Mariana.
Dois anos depois, Mariana abandonou o tratamento, sem que o grupo conseguisse dela traçar um perfil. Enquanto Roberto, depois de três anos, saiu com alta dada pelo psicanalista, Dr. Antônio.
Passaram quase uma dezena de anos do encontro de Roberto e Mariana no grupo e o destino promove seu reencontro.
Roberto há quanto tempo, continuas bonitão, exclama Mariana.
Sim Mariana, tanto tempo, que já casei e tornei-me pai. E Mariana, curiosa, por querer saber do poder de cura da psicoterapia, indaga sobre se ele ainda fazia xixi na cama?
Roberto com a transparência de sempre, surpreende mais uma vez Mariana e lhe diz que sim. Somente que agora o problema não lhe incomoda e nem atrapalha. Inclusive, que passou a dormir de fraldão, reduzindo, praticamente eliminando o trabalho com lavagens de lençóis, pijamas e cuecas.
E tu Mariana, retribuindo-lhe o interesse. E Mariana responde: quando soube de tua alta do grupo, entendi que foi teu comportamento de transparência aos grilos e fantasmas, que te conduziu ao êxito. Retornei ao grupo e, te surpreendas, dois anos depois, também, tive alta.
Despediram-se em desejos mútuos de felicidades e numa certeza comum de que a psicoterapia de grupo fora uma das experiências mais ricas de suas vidas.
PS: A ideia inicial era contar uma piada curtíssima e muito conhecida, que ironiza a psicanálise (o caso de a enurese noturna, protagonizado pelo Roberto). Entretanto, como gostaria de receber comentários de “recantistas” especialistas, em especial da poetisa e psicanalista Lélia Angélica (que desenvolve excelente e didático trabalho), sobre as afirmativas tanto a contida na piada, quanto as supostas pela crônica, que, também, incluiu a piada.
Se não for tudo justificado e explicadinho, quem narra não é virginiano...