Dias de Fúria
Às vezes, os dias acordam de mal com a gente. Acordam pesados, cinzentos, como se carregassem uma tempestade por dentro. E, de repente, a gente se vê tomado por uma raiva que não sabe de onde veio, mas que veio pra ficar. Uma palavra atravessada no café da manhã, um trânsito caótico a caminho do trabalho, uma notícia ruim que chegou sem avisar. E lá estamos nós, entregues à fúria, prontos para disparar contra o primeiro que cruzar nosso caminho.
A verdade é que, em algum momento, todos nós somos tomados por esses dias de fúria. Dias em que a paciência é curta, o sorriso é raro, e o coração parece carregar uma pedra. Mas sabe o que é mais perigoso? É deixar esses dias se tornarem maioria. Deixar que a raiva vire nossa companhia constante, nosso estado de espírito, nossa forma de ver o mundo.
Porque a fúria tem um jeito sutil de nos roubar a essência. Aos poucos, ela nos transforma. Começamos a ver o lado ruim de tudo, a desconfiar das intenções, a acreditar que nada vale a pena. E, sem perceber, vamos perdendo aquela parte de nós que é leve, que é doce, que sabe ver o sol mesmo quando as nuvens insistem em cobri-lo.
É claro que não dá para evitar que a raiva apareça de vez em quando. Ela faz parte da vida, assim como a tristeza, a alegria, a saudade. O problema é quando ela passa a ser o nosso endereço permanente. Quando, de repente, esquecemos como era viver sem esse peso, sem essa sombra.
Por isso, não deixe que os dias de fúria sejam maioria. Quando perceber que está perdendo a leveza, pare um instante. Respire fundo. Lembre-se do que te faz sorrir, do que te faz bem. Lembre-se de quem você é, de sua essência. Não deixe que ela se perca em meio à raiva, em meio ao caos.
A vida é curta demais para ser vivida com o coração pesado. Os dias ruins vão passar, como sempre passam. Mas a sua essência, essa você deve guardar com carinho, porque ela é o que te torna único. Ela é o que faz a vida valer a pena, mesmo nos dias de tempestade.
Então, quando a raiva vier, deixe que ela passe. Não se apegue. Não deixe que ela defina quem você é. Porque, no fim das contas, somos muito mais do que nossos dias de fúria. Somos feitos de sonhos, de sorrisos, de amores e esperanças. E é essa essência que devemos cultivar, mesmo quando o mundo parecer querer nos transformar em algo que não somos.