Entre Sem Bater - Não sou Positivista !

Albert Einstein disse:

"... não sou positivista. O positivismo afirma que o que não pode ser observado não existe. Esta concepção é cientificamente indefensável ..."(1)

Reitero que, sobre Einstein, prefiro indicar um espaço sobre seus trabalhos e frases ( Wikiquote ) que trazem ideias sensacionais. Einstein será presença constante aqui nesta trilha e não serei um a adotar a obediência cega ou praticar o apelo à autoridade. Nossa civilização no Século XXI não seria a mesma sem Einstein, chamá-lo de um físico-teórico é um absurdo inominável. E suas ideias sobre qualquer tema, inclusive sobre não ser um positivista, sempre são instigantes.

POSITIVISTA

Algumas palavras tem uma definição muito simples no dicionário. Positivista é uma delas.

positivista ( po·si·ti·vis·ta )

adjetivo de dois gêneros

1. Que diz respeito ao positivismo.

substantivo de dois gêneros

2. Pessoa que professa o positivismo.

Origem etimológica: positivo + -ista. Palavras relacionadas - comtista(*)

Fonte: Dicionário Priberam da Língua Portuguesa

Ao contrário de outros termos, que possuem muitos contextos, este é fácil de explicar e entender. Temos, por exemplo, termos como otimista(2) e polarização(3) que relacionam-se com o pretenso positivismo que reina nas redes sociais. Entretanto, a complexidade destes termos passa longe do que Einstein disse.

A frase original de Einstein, com divulgação em vários portais de frases famosas é maior:

"Não sou positivista. O positivismo afirma que o que não pode ser observado não existe. Essa concepção é cientificamente indefensável, pois é impossível fazer afirmações válidas sobre o que as pessoas 'podem' ou 'não podem' observar. Alguém teria que dizer 'só o que observamos existe', o que é obviamente falso." Einstein (AZ Quotes)

O pensamento de Einstein, em conexão com o mundo real e científico, não permitia aceitar as limitações de um positivista. Com toda a certeza, o gênio da física e de outras ciências não admitia certos dogmas e pensamentos obtusos.

NÃO SOU POSITIVISTA !

Do mesmo modo que Einstein, não sou positivista, aqueles que adoram lemas de bandeiras e não praticam nada do que dizem. Assim sendo, atualmente, o avanço dos falsos positivistas só não está maior do que os lacradores sem noção que buscam a eleição. Infelizmente, em tempos eleitorais municipais, conhecemos mais de perto os que se apresentam como positivistas, mas não passam de parlapatões(4).

Definitivamente, não sou positivista, nem pessimista, sou realista e é indefensável a ideia de não observarmos todas as possibilidades teóricas.

FALSOS POSITIVISTAS

A era das redes sociais trouxe consigo um fenômeno inquietante: a proliferação de falsos positivistas e pregadores de púlpito. Decerto, sob o pretexto de disseminar conhecimento ou oferecer orientação, conduzem multidões em direção a ilusões e promessas vazias. Em meio a essa maré, a premissa de Einstein torna-se um farol de racionalidade. Contrastando, sem dúvida, com a insensatez que se espalha nas plataformas digitais.

Essa frase-chave, desafia o positivismo ingênuo e criminoso e, como se não bastasse, lança luz sobre a perversidade e insanidade das redes sociais. Em outras palavras, a busca pelo inatingível, prática comum dos charlatões modernos digitais, exige algum contraponto.

A SEDUÇÃO IRREAL

Nas redes sociais, o irreal muitas vezes se veste de verdade absoluta. Influenciadores e “gurus” vendem a ideia de que tudo é possível, desde que você acredite o suficiente.

“Pense positivo e tudo dará certo!”;

“Basta visualizar o que deseja e o universo conspirará a seu favor!”;

“Você pode se tornar milionário da noite para o dia com este método simples!”

Estas são, por exemplo, algumas das armadilhas que capturam a atenção de milhões. Esses slogans, envoltos em uma aura de certeza, ignoram a complexidade da realidade. Promovem, outrossim, uma visão de mundo onde a vontade individual pode, sozinha, moldar o destino ou o futuro.

Este tipo de pensamento é uma distorção perigosa do positivismo, que originalmente valoriza o empirismo e as comprovações. No entanto, nas mãos dos falsos positivistas das redes sociais, essa filosofia se transforma em um culto ao irreal. Surpreendentemente, qualquer crítica ou dúvida recebe oposição e rejeição como negatividade ou falta de fé.

O efeito pernicioso é duplo: as pessoas perseguem objetivos inatingíveis e, quando falham, a culpa recai sobre elas mesmas. Enfim, fica a ideia de que, por não acreditarem ou se esforçarem o suficiente, não deu certo.

A realidade, com suas limitações e desafios, nunca tem tratamento de forma própria e honesta. Enfim, perdemos a guerra para o falso positivista de rede social.

A INSANIDADE COLETIVA

Essa mentalidade não só é perversa, mas também conduz a uma forma de insanidade coletiva. Quando grandes grupos de pessoas começam a acreditar em promessas vazias e a ignorar evidências contrárias, temos um problemão. Estas crenças criam um ambiente propício para o crescimento de bolhas ideológicas. Nessas bolhas, a dissonância cognitiva desaparece, e qualquer ideia que desafie a narrativa dominante é  uma ameaça.

As redes sociais com seus algoritmos, certamente, favorecem a confirmação de crenças e dogmas. Exacerbam esse fenômeno, criando realidades paralelas onde a verdade pela conveniência e popularidade, e não pelos fatos, é a tônica.

A insensatez dessas bolhas evidencia-se quando consideramos as consequências desse pensamento ilusório. Pessoas investem tempo, dinheiro e esforço em promessas que nunca se materializam. Alguns chegam ao ponto de sacrificar relacionamentos e bem-estar emocional na busca por algo que, na verdade, nunca existiu. Em outras palavras, pessoas morrem por algo que só existe nas mentes malignas daqueles que o propagaram.

Em suma, a Internet, ao invés de ser um espaço de aprendizagem e crescimento, torna-se um oceano de ilusões e insanidades.

OS PREGADORES DE PÚLPITO DIGITAL

Entretanto, como nada é tão ruim que não possa piorar, temos outro elemento perturbador dessa dinâmica: os pregadores de púlpito digital. E aqui não estamos nos referindo somente aos pregadores religiosos, mas a todos que tentam evangelizar pessoas em qualquer assunto. Inquestionavelmente, não são poucos os temas que possuem evangelizadores com lábia suficientemente sedutora e criminosa.

Esses indivíduos, carismáticos e eloquentes, utilizam a linguagem da fé, da espiritualidade ou da pseudociência para validar suas mensagens. Apresentam-se como guias espirituais ou mentores, oferecendo fórmulas mágicas para o sucesso, a felicidade ou a iluminação. No entanto, o que realmente vendem é um produto vazio, com promessas de transformação que nunca se realizam.

A perversidade dessas figuras está em sua habilidade de explorar as maiores vulnerabilidades humanas nos momentos mais difíceis. Sabem que as pessoas buscam sentido, segurança e pertencimento, especialmente em tempos de incerteza. Usam essas necessidades básicas para construir uma base de seguidores que, cegos pela esperança, não questionam as premissas de seus líderes. Assim, o pregador digital se torna uma figura quase divina, acima da crítica, capaz de ditar normas de comportamento e pensamento. Raramente são altruístas e, na maioria das situações, atuam em detrimento do bem-estar de seus próprios seguidores.

OBSERVAÇÃO CRÍTICA

Neste contexto, a reflexão de Einstein adquire uma relevância ainda maior nos tempos atuais. A ideia de que é cientificamente indefensável ignorar aquilo que não é observável é um chamamento à razão. Adicionalmente, deve ser um lembrete de que a realidade exige um confronto em seus próprios termos. Em outras palavras, narrativas por conveniência, lacrações e distorções que se adequem às fantasias, são um engano fatal.

As redes sociais, com sua tendência a amplificar o irreal, demandam de nós, sempre, uma postura crítica e observadora. Desse modo, a dúvida e o questionamento são ferramentas essenciais para navegar pelo mar de desinformação.

Enfim, as redes sociais, ao darem voz a todos, criaram um espaço fértil para a disseminação de ideias perigosas, num simulacro de otimismo e fé. A figura do falso positivista e do pregador de púlpito digital exemplifica essa distorção que cresce a cada dia. Por isso, eles conduzem as massas em direção a ilusões que, no final, só servem para alimentar a frustração e a desesperança. Para combater essa perversidade e insanidade, é crucial que cultivemos a capacidade de observar e questionar.

A realidade, por mais dura que seja, é o único terreno firme sobre o qual podemos construir nossas vidas. Algumas características das pessoas deveriam ter uma severa proibição de manifestação pública. Ser positivista no mundo digital, certamente, é uma delas.

Não sou positivista !

P. S.

(*)  Comtista não é um erro de digitação ou de português, conforme possa parecer. É uma adjetivação em relação a Augusto Comte, filósofo francês, o maior positivista da humanidade. O comtiano master terá seu espaço na série "Entre Sem Bater", mas sem grande apoio às suas ilusões.

(1) "Entre Sem Bater - Albert Einstein - Não sou Positivista !" em https://evandrooliveira.pro.br/wp/2024/09/02/entre-sem-bater-albert-einstein-nao-sou-positivista/

(2) "Entre Sem Bater - Dilbert - Otimista" em https://evandrooliveira.pro.br/wp/2024/08/30/entre-sem-bater-dilbert-o-otimista/

(3) "Entre Sem Bater - Brenda Lee Strong - Polarização e Ruína" em https://evandrooliveira.pro.br/wp/2024/08/29/entre-sem-bater-brenda-lee-strong-polarizacao-e-ruina/

(4) "Entre Sem Bater - Evandro Oliveira - O Parlapatão" em https://evandrooliveira.pro.br/wp/2023/08/25/entre-sem-bater-evandro-oliveira-o-parlapatao/