Um atropelo no início do semestre
A beleza não pode ser fundamental.
Recordar é viver. Esta frase parece que foi retirada de minhas gavetas trancadas a sete chaves. Às vezes abro uma delas e espio o que aconteceu comigo no passado. Fui um jovem professor universitário que dava aulas para o último semestre do curso de Contabilidade. Tenho uma saudade danada daquele tempo. Eu era feliz e não sabia o por quê. Chegava cedo para esperar os alunos na porta da sala. Às vezes tinha que buscá-los no pátio no final dos intervalos.
Nem tudo são flores, nem amores para um professor cheio de sonhos. Às vezes acontecem coisas difíceis de serem resolvidas. Mas é possível superá-las com humor e um pouco de sofreguidão.
Na segunda semana do semestre, a primeira reunião dos professores aconteceu como era o esperado. Eu estava presente. Estávamos discutindo sobre um assunto importante. A matéria "Matemática III" deveria ser excluída do currículo do curso de Contabilidade. O que acabou acontecendo, depois de muita resistência de alguns colegas. Durante a reunião, o coordenador disse que uma aluna queria falar comigo na secretaria. Pedi para que ela esperasse. Assim que a reunião terminasse eu falaria com ela.
A aluna esperava por mim na recepção. Não a via em sala de aulas. A princípio pensei que ela estivesse voltando de uma viagem de férias. Problema comum para os alunos descompromissados. Eu pedi para que ela se sentasse na cadeira ao lado daquela que eu iria ficar. Ela agradeceu e continuou de pé.
__ Professor eu gostaria de lhe fazer uma pergunta complexa.
__ Pois não!
__ Veja bem uma aluna gostosa que nem eu precisa assistir suas aulas?
Confesso que levei um baita susto. Por um segundo não consegui responder. Ela era uma criatura brilhante dos pés à cabeça. Tudo nela era de marca e bom gosto.
Em seguida eu disse:
Sim! Não é necessário.
__ Jura?!
__ Sim, de pés juntos.
__ Não acredito!
__ Pois pode acreditar, você já está passada e não vê.
Quando virou as costas, lembrei-me do filme O Diabo Veste Prada.
Depois desse dialogo profundo, nunca mais a vi.
Era melhor não ter aberto aquela gaveta.