Ponta de Lança em Compotas
APESAR da asma, ainda no tempo que não havia a bombinha, eu teimava em jogar futebol. Só jogava, no máximo, meus horários, paradão, apenas tocando a bola e aqui e ali dando um drible. O chute era uma cafofa, fraquinho demais. Era ponta de lança (camisa oito) mesmo sem dar uma só cabeçada, o cabelo duro de Gumex. Tinha um medo horrível da bola bater na minha cabeça. Como era amigo de todos os jogadores, inclusive dos dos times adversários, não sofria nenhuma entrada dura. Em vez de me alegrar com isso, ficava incomodado porque achava que estavam com pena de mim. Detalhe: sempre fui habilidoso com a bola,mas cansado quase nada produzia. Fui em frente, até o dia que comecei a fazer gols. Sim. Gols. Conseguia driblar um beque e num esforço tremendo chegava perto do goleiro e mandava a cafofa e, pimba, gol.
Mas logo a ficha caiu. Descobri que era armaçao dos amigos que queriam me alegrar. Nada disso, gentileza e amizade não rima com rancor. Apenas desisti do futebol. De boa. Era uma vez um ponta de lança em compotas. William Porto. Inté.