Aspirante a Oficial
Não são apenas os livros que constroem os homens.
Escrever é gratificante e dá prazer. É uma habilidade que evolui com o tempo. Não precisa nascer com talento. Para ser um bom escritor é só escrever, mas como diz um amigo dos versos... Até que fique cego.
Sempre falo do meu trabalho como professor que um dia fui com imenso orgulho. Tenho histórias que quero compartilhar. Se não contar, elas não serão lembradas.
Quando eu estava para deixar a Universidade, no final do semestre, os alunos pareciam ter vindo de outro planeta. Bagunçavam com tudo. Inclusive com o Aspirante a Oficial que sempre ia a caráter. Ele já era mais velho do que o restante do grupo.
Para meu desespero, num sábado de manhã o calor estava insuportável. Não havia ar-condicionado na sala. O Aspirante a Oficial se sentou no final da sala perto da porta de saída. Era um aluno que não falava nada e não perguntava nada. Mas as alunas infernizavam a sua vida: escondiam os seus livros, seu boné, sua caneta. Ele, como sempre, permanecia impávido.
Quando terminei a chamada naquele dia, uma das alunas levantou a mão e me perguntou se ela poderia ir ao quadro. Ela disse que queria falar sobre uma frase que acabara de ler em um outdoor que tinha sido colocado nas proximidades da Universidade e que não havia entendido o que ela dizia. Eu disse que sim. Ela estava com uma saia vermelha, um palmo acima dos joelhos. Para chegar ao quadro precisou subir um degrau de 30 centímetros, onde ficava a minha mesa. Ela foi e escreveu com letras garrafais: "Você viu o que você viu?".
O Aspirante a Oficial levantou-se e disse: "Professor, não tenho mais idade para ver o que vi".
Depois desse entrevero só o vi no dia da formatura. Eu não era o paraninfo, mas como ele não pode ir, fui destinado a conduzir os formandos ao palco. Quando li o nome do Aspirante a Oficial, ele fez uma saudação militar para mim.
Nós não nos vimos mais... Infelizmente!