Entre Sem Bater - Polarização e Ruína
Brenda Strong disse:
"... existe uma experiência polarizadora e dualista que ocorre politicamente e economicamente no mundo; e acredito que estamos perto de um ciclo verdadeiramente caótico ..."(1)
Brenda Strong nunca me chamou a atenção como atriz nas produções que participou. Como espectador que acompanhou várias das séries em que atuou, isso reforça a ideia de que sofremos influência externa em demasia. Sua frase sobre polarização entrou quase que por acaso na série "Entre Sem Bater", por falta de lógica na ideia dos tupiniquins. Por outro lado, fiquei satisfeito em ver o trabalho da atriz ao compor personagens com consistência além do que imaginei.
A POLARIZAÇÃO
A polarização a que se refere Brenda Strong parece querer alçar picos mais agressivos e nocivos à sociedade. É provável que cada cidadão no planeta pense que este é um tema que não lhe diz respeito. Só de pensar assim, ele já está no meio da pior das polarizações: a polarização que provoca o caos e a ruína(2) da sociedade.
Algumas sociedades, como a estadunidense, não se dão conta e praticam a sandice da polarização desde sempre.
Um caso interessante é, por exemplo, o tiroteio de "OK Corral"(*).
DEMOCRACIA E POLARIZAÇÃO
A humanidade se organiza e evolui a partir de complexos arranjos e formas e sistemas para dar poder ao homem sobre outros homens. Desse modo, surgem conceitos que ultrapassam a teoria e, na prática, não são o que diz a teoria.
Numa democracia, por exemplo, não seria necessário usar a força para chegar ao poder. Com toda a certeza, o poder não aconteceria por meio da violência, mas pela discussão de ideias. Assim sendo, é possível afirmar que uma democracia(3) plena não é somente dar direito de voto às pessoas.
Uma democracia exige, com toda a certeza, respeito a regras comuns, reconhecimento da legitimidade dos adversários. Como se não bastasse, é necessário que os rivais não sejam inimigos e pratique a tolerância e o diálogo.
Inquestionavelmente, o excesso de polarização compromete todos esses quesitos de maneira que não exista nenhuma democracia. E, de fato, como podemos observar ultimamente, numa sociedade onde há radicalização, os adversários viram inimigos. Desta forma, qualquer diálogo transforma-se em bate-boca e descamba para baixarias como presenciamos nas redes sociais.
Enfim, as eleições municipais estão logo ali, e nada parece estar dentro dos limites de uma polarização saudável, pelo contrário, vai piorar muito.
POLARIZAÇÃO TUPINIQUIM
Qualquer ORCRIM (Máfia, Cowboys, Partidos Políticos, Torcidas Organizadas ...) acham que podem fazer o que quiserem. Estão certos de que, sem dúvida, nunca acontecerá nada, até que exista algum julgamento minimamente justo. Entretanto, é importante ressaltar que nem todas estas organizações têm em sua composição gente criminosa. Decerto, igrejas, partidos políticos, torcidas e muitos outros agrupamentos possuem pessoas que não cometem crimes.
No país do Pau-Brasil os problemas quase insolúveis surgem inicia-se a polarização, inclusive no Judiciário e organizações, aparentemente, isentas. Surpreendentemente, o Poder Judiciário que deveria equacionar a polarização e os efeitos que ele provoca, contaminou-se de forma letal.
A polarização que ocorre em Terra Brasilis tem cura, bastaria, contudo, que as pessoas entendessem e praticassem atitudes inteligentes.
ENTENDIMENTO DE LIMITAÇÔES
Nas redes sociais, a diversidade de perfis e origens culturais dos participantes é imensa. Por isso vemos uma gama de limitações cognitivas que diminuem qualquer possibilidade de entendimento. Essas limitações podem variar desde a falta de conhecimento mínimo sobre um determinado tema até a dificuldade em interpretar informações.
Desta forma, reconhecer essas limitações individuais é essencial para um debate produtivo, mesmo que com polarização. Ao entender que nem todos possuem a mesma capacidade de argumentação ou compreensão, podemos ajustar o tom e a abordagem da conversa. Todos os debatedores possuem limitações e o objetivo não é destacá-las, mas superá-las.
Embora isso não signifique subestimar os interlocutores, vai parecer assim, sempre que os interlocutores não quiserem o debate. Por isso, encontrar uma linguagem comum e acessível que permita a todos entenderem os pontos discutidos é necessário. Por outro lado, ignorar essas limitações leva ao fortalecimento da polarização e privilegia as arenas de ataques pessoais. Neste contexto, o foco se desloca da troca de ideias para a desvalorização do outro, às vezes necessária.
DIVERGÊNCIAS REFUTÁVEIS
Em um ambiente onde opiniões diversas se encontram, aceitar as divergências é o primeiro passo para um debate, minimamente, saudável.
A pluralidade de ideias nunca deve ser um obstáculo, mas uma oportunidade de ampliar horizontes e desafiar dogmas e preconceitos. No entanto, para que essa troca seja proveitosa, é fundamental buscar e apresentar fundamentos comprováveis, refutáveis e sustentáveis. Isso inclui, certamente, o uso de dados, pesquisas acadêmicas e evidências empíricas, verificáveis e transparentes. Na contramão desta linha de divergências refutáveis aparece o câncer das fake news e boatos digitais, além dos memes e dancinhas.
Refutar uma ideia sem fundamentação apenas perpetua a desinformação e contribui para a polarização. Ao contrário, quando uma divergência fundamenta-se em algo factual e crível, surge um espaço para o diálogo construtivo.
A proposta é de que a divergência de ideias deve existir, com o foco na busca pela verdade e não na vitória do debate.
APROXIMAÇÃO DE IDEIAS
Muitas vezes, as discussões nas redes sociais se concentram em destacar as diferenças, ignorando os pontos em comum de cada polêmica. Desse modo, abordagens que poderiam servir como base para um diálogo mais produtivo dão lugar a divergências irreconciliáveis.
E, como se não bastasse, ocorre o diversionismo que, em muitos casos, é proposital e engana a maioria da audiência. Podemos, analogamente, citar a questão do meio ambiente, que em diversos debates ninguém apresenta-se para refutar. Aparentemente, todos são defensores do meio ambiente e sua proteção, entretanto, a forma como se faz, afasta as pessoas. Desse modo, políticos defendem interesses do agro e a população fica sem entender e adere a um dos lados, numa polarização insana.
Uma estratégia eficaz para evitar a polarização é começar o debate destacando aquilo que é convergente ou unificador entre as partes. Em outras palavras, devemos identificar valores, princípios ou fatos que ambos os lados concordam e criar um terreno comum. Assim sendo, as ideias, notadamente as divergentes, são base para uma discussão com mais equilíbrio e racionalidade.
Esse ponto de partida facilita a construção de pontes, onde as diferenças surgem de forma gradual e em contextos específicos. É provável que o impacto emocional das divergências tenha uma redução importante, o que não ocorre sem a aproximação prévia.
Enfim, trabalhar a partir do que une, ao invés do que divide, ajuda a criar um ambiente de colaboração e respeito. E, com toda a certeza, estes são comportamentos essenciais para qualquer debate sério e inteligente.
DIÁLOGOS CONSISTENTES
Um dos grandes problemas das redes sociais e da nossa sociedade é a superficialidade no tratamento de qualquer tema. A Internet e o "Dr. Google" democratizaram, sobremaneira, o acesso à informação, sem critérios de qualidade da mesma. Entretanto, este acesso extremamente mais fácil não proveu consistência aos diálogos e debates dentro e fora das redes. Desse modo, a gritaria e a velocidade com a qual as pessoas atuam promove uma babel que não tem uma correção possível.
Por outro lado, para evitar isso, é crucial estimular o diálogo entre pessoas que, mesmo tendo opiniões divergentes, possuem consistência num tema. Com toda a certeza, não é preciso ser expert ou doutor (de verdade) no assunto, mas a fundamentação destrói qualquer polarização estéril.
Por isso, os que conhecem além do básico e baseiam seus argumentos em fundamentos consistentes, sofrem com os haters e ignorantes. Debates entre indivíduos que possuem conhecimento sobre um tema específico tendem a ser mais ricos e informativos. Desse modo, contribuem mais para o esclarecimento de questões complexas e crescimento de todos.
Além disso, esse tipo de interação demonstra que é possível discordar respeitosamente, sem recorrer a ofensas ou ataques pessoais. Excepcionalmente, até mesmo aqueles que conhecem muito de um tema, perdem-se no debate pelas provocações baratas e estultice de poucos.
Enfim, estimular o diálogo com qualificação serve como exemplo para outros participantes, mostrando que o valor de uma discussão está na qualidade. Por outro lado, a falta de argumentos e a quantidade de comentários ou likes não definem uma consistência ou qualificação.
GLOSSÁRIO E ADJETIVAÇÕES
Anteriormente, sem as redes sociais, qualquer debate ou até mesmo polarização, tinha como pré-requisito o equilíbrio de conceitos. Em outras palavras, as pessoas precisavam dominar um glossário mínimo do tema ou saber como funcionavam as adjetivações.
Atualmente, a linguagem das redes sociais pode facilmente se tornar uma ferramenta de polarização. Como se não bastasse os absurdos memes, siglas em inglês e termos tribais, cada um utiliza uma palavra como quer. Surpreendentemente, os adjetivos pejorativos e interpretações da 5a série tornam-se "estrelas" em debates que deveriam ter seriedade.
Interpretações peculiares e adjetivos que desqualificam termos e palavras aplicam-se até para desqualificar pessoas e não os argumentos. E nada é tão ruim que não possa piorar, surgiu a "desculpa" do "tô zoando", uma forma irresponsável e criminosa de todo polarizador contumaz.
Para evitar essa armadilha, é essencial promover uma base de conhecimento clara, objetiva e livre de adjetivações, desde o começo. Assim sendo, evitam-se distorções na interpretação de uma expressão ou conceito. Isso implica em evitar o uso de termos que carregam preconceitos implícitos ou que a má interpretação provoque a polarização. Entretanto, a comunicação precisa e direta pode parecer pedante e até mesmo arrogante, aos olhos dos detratores das ideias.
Ainda assim, é importante educar os participantes do debate sobre a importância de interpretar termos e expressões dentro de um contexto. Desse modo, evita-se que diferenças semânticas se transformem em conflitos desnecessários. Promover uma comunicação baseada em fatos e termos é difícil, mas contribui para a elevação do nível do debate sem polarizações.
RACIONALIDADE JÁ
Em suma, em pleno ano eleitoral vemos alguns embates como acontece até nas capitais de estados, serem dignos de tiroteios do velho oeste. E o pior é que, analogamente à violência daqueles tempos, a violência está numa etapa pior e mais cruel. E, como se não bastasse, dependendo das escolhas dos eleitores, teremos alcaides e edis(4) muito piores do que os anteriores. Sempre podemos piorar aquilo que é muito ruim numa cidade sem lei e com interesses escusos acima de tudo.
A ruína é aqui e agora !
"Amanhã tem mais ..."
P. S.
(*) O.K. Corral era um prédio na cidade de Tombstone (Arizona). Certamente, a maioria dos brasileiros que deseja saber sobre o que a polarização provoca numa cidade deveria ler sobre o local. Após quase 250 anos, a polarização recrudesceu no planeta inteiro, mas o enredo e efeitos são os mesmos, em qualquer cidade. Em tempo, O.K. desta referencia não tem absolutamente nada a ver com a simbologia atual do OK como tudo certo, #taoquei?
(1) "Entre Sem Bater - Brenda Lee Strong - Polarização e Ruína" em https://evandrooliveira.pro.br/wp/2024/08/29/entre-sem-bater-brenda-lee-strong-polarizacao-e-ruina/
(2) "Entre Sem Bater - Norman Vincent Peale - A Ruína do Elogio" em https://evandrooliveira.pro.br/wp/2023/05/03/entre-sem-bater-norman-vincent-peale-a-ruina-do-elogio/
(3) "Entre Sem Bater - Aristóteles - A Democracia" em https://evandrooliveira.pro.br/wp/2024/08/13/entre-sem-bater-aristoteles-a-democracia/
(4) "Legislativo Municipal - Mais do mesmo" em https://evandrooliveira.pro.br/wp/2021/01/02/legislativo-municipal-mais-do-mesmo/