Não leia só o que todo mundo lê
“Se você só lê o mesmo que todo mundo lê, acaba pensando o mesmo que todo mundo pensa.” Amei essa frase de Haruki Murakami. Não sei em que obra ele a escreveu, mas ela, seguramente, é dele. Como tenho certeza? Bom, eu a copiei do papelão da embalagem de uma encomenda que recebi ontem, 28 de agosto de 2024, da Editora WMF Martins Fontes, o livro As origens do pensamento grego, de Jean-Pierre Vernant, tradução de Ísis Borges B. da Fonseca. Estava impressa no papelão. Boa ideia!
Pense na coisa. Se ler só o mesmo que todo mundo lê já é um problema, imagine o problema que é não ler livro algum nem qualquer outro tipo de texto afora as mensagens – não raramente, muito mal escritas – de aplicativo de celular, o que, infelizmente, parece ser a realidade da maioria das pessoas nos dias de hoje, pelo menos no Brasil. É triste. As pessoas não leem e, por causa disso, ficam a cada dia mais empobrecidas culturalmente.
É preocupante e desanimador. Cultura não é só ler, claro, mas a leitura, ninguém duvide, está em primeiro lugar dentre as formas de obtenção do conhecimento. Ninguém vive bem e seguramente informado e atualizado, se não lê boas obras, bons livros, jornais e revistas. É, infelizmente, o que acontece, as pessoas não leem. E não é só isso. Não ler é um problema grave, mas interpretar erradamente o que lê e, consequentemente, o que ouve é um problema gravíssimo.
Mudando, porém, de assunto, quero dizer da minha alegria de adquirir o livro As origens do pensamento grego, de Jean-Pierre Vernant. Há anos que eu quero comprar esse livro, mas fui, involuntariamente, adiando: compro hoje, compro amanhã. E os anos se passaram. Foi o primeiro dos livros que estudamos, em 1997, na disciplina Introdução à Filosofia, da graduação em Direito, na Universidade Federal do Pará. Na mesma disciplina, depois dele, estudamos o Critão, de Platão, na tradução de Carlos Alberto Nunes.
Voltei no tempo! Lembrei-me de que o professor, um jovenzinho imaturo e boçal ao extremo, propositadamente bateu de frente com a turma de calouros. Já entrou na sala dizendo que nos faria sair de lá odiando o Direito. Grande tolice a dele. Imagine-se um disparate desse diante da empolgação de um calouro de Direito. A única coisa que ele conseguiu foi fazer que quase todos, se não foram todos menos eu, passassem a odiar a Filosofia. Bonito para a cara dele! Apostou erradamente, claro. E não ganhou.