SE CONSTANTE E COTIDIANO ENLOUQUECE
O silêncio é a complexa linguagem do imponderável, tanto pode ser gritante e ensurdecedor quanto doloroso e eloquente. Quando nos envolvemos em seus corredores o tudo parece indubitavelmente vazio, distante, tangencial. É a escolha habitual dos circunspectos, daqueles habituados a viver longe de seus pares.
O silêncio muitas vezes corrobora mais que o arroubo das palavras oriundas de impulsos incontroláveis, mas em se mostrando incontornável e enigmático desponta indecifrável. Tanto os escritores quanto os poetas, sem esquecer as bibliotecas e os hospitais gostam do silêncio, trata-se de pessoas e locais diferentes, especiais por assim dizer, os que preferem o inaudível farfalhar das folhas ao sopro agudo do vento.
Talvez porque nele existam mananciais de inspiração além do sossego indispensável às respectivas atividades de uns e a necessidade de conforto emocional de outros. Criatividade, concentração e repouso tornam imprescindível o silêncio, daí a busca ansiosa por ele. Por óbvio ninguém alcança sono profundo, escreve, lê e se recupera de alguma enfermidade no auge do caos.
Mas em determinados momentos da vida o silêncio também pode ser e realmente é irritante, deprimente, cansativo, verdadeiro gatilho da loucura. Nesses casos, de tão pleno ressoa insuportável, ponto de partida para o repentino descontrole da alma. Na dose e nos instantes adequados é bem vindo, constante e cotidiano enlouquece.