As paredes e os cemitérios parecem entender melhor a democracia do que as pessoas
Na minha cidade, Charqueadas, um cinquentenário prédio que foi até poucos anos a rodoviária, ultimamente tem sido utilizado como comitê eleitoral, por ser amplo e muito bem localizado, inclusive com estacionamento. O curioso, levando-se em conta como o Brasil está politicamente dividido, é que em 2022 foi da extrema-direita e, agora em 2024, é da esquerda.
Antes, as bandeiras do Brasil e o verde e amarelo eram a tônica; agora, são o vermelho, o azul e o verde das agremiações. Como prédio não possui ideologia política, onde dois anos atrás momentaneamente habitaram os que nutrem ojeriza por estrelas, rosas, foices e martelos, hoje estão localizados justamente esses, nas bandeiras afixadas nas paredes. Os microfones, como uma vez disse Leonel Brizola, aceitam tudo, assim como as paredes. São democratas e libertárias, não guardam mágoas e tampouco rancores, pequenas coisas que poluem o espírito dos humanos. Onde já morou um rei, tempos depois podem residir plebeus - a história do mundo é pródiga de exemplos.
Todos viemos do pó e ao pó retornaremos, conhecemos bem esse ensinamento bíblico que, às vezes, parece, muitos esquecem na passagem por esse plano físico. No Júlio Rosa, nosso cemitério, adversários jazem lado a lado e são conjuntamente visitados no Dia dos Mortos.
Logo, que paredes e cemitérios ensinem algo para os vivos sobre a democracia viva.