AO PÉ DA ESCADA
Meus avós maternos, Bernardina e Antônio, tiveram 16 filhos, dos quais treze sobreviveram e três morreram ao nascer. Os treze que vingaram, viveram saudáveis até a maturidade ou a velhice.
Os mais velhos nasceram e cresceram enquanto seus pais viviam na Fazenda Canoas, no município de Ponte Alta – SC. Ao completarem sete anos de idade, todos começavam a ser alfabetizados por um professor contratado que residia na casa até que aprendessem noções básicas da língua, de matemática e outras matérias. Naquele tempo aprendiam muito e alguns deles continuaram os estudos em cidades próximas ou foram para capitais onde cursaram universidades.
Mamãe contava que a aula começava de manhã bem cedo, no andar superior da velha casa de madeira e se prolongava até às 10 h. Quando acabava esse primeiro turno, vovó esperava as crianças ao pé da escada, com uma lista de atividades para cada uma. As maiores davam conta dos trabalhos mais pesados, enquanto as pequenas também contribuíam com tarefas leves, compatíveis com suas idades.
“Clélia, vá lavar a roupa no riacho! Nelson, vá ajudar seu pai na horta! Maria, venha comigo para a cozinha! Gentil, leve sal para o gado!” E assim por diante.
Ter muitos filhos, naquela época do século passado, era um ativo importante, pois havia a necessidade de braços para o trabalho árduo, no campo, na lida com plantações e animais.
À tardinha, havia uma segunda rodada de aulas no sótão, para recapitular o que fora ensinado pela manhã ou para testar os conhecimentos dos pupilos.
Sinto-me feliz ao rememorar tudo isso, pois minha geração, que não foi criada na fazenda, recebeu educação semelhante. Uma herança bendita, que só nos fez bem. Nunca houve castigos físicos, porém ensinamentos com responsabilidade, obediência e respeito. E mais: amor, um querer bem, que não se declarava, mas que se mostrava, implicitamente, nas atitudes.