Carne de onça da Analy
Analy estava dentro do avião que seguia para Frankfurt, sem escala alguma, quando a passageira ao lado perguntou:
- Você está indo para Frankfurt?
- Não, eu peguei o avião err...
Ela quase respondeu grosseiramente para a interlocutora, mas a mãe lhe ensinou bons modos, que ela tenta aplicar. A mulher, que descobriu chamar-se Conceição, continuou puxando assunto os mais variados possíveis.
Até chegar em um que Analy gosta demais, gastronomia. Analy teve que repassar a receita de Carne de Onça, que é sua especialidade.
Começou explicando a história da iguaria, já que a faladeira, apavorada, perguntou como caçavam o bicho, que gosto tinha e outras coisas pertinentes ao animal.
- Não é nada disso que a senhora está pensando. Uma das versões de como surgiu esse prato, é a seguinte: Lá pela década de 40, o peladeiro Ronaldo Abrão, o Ligeirinho, lá no botequim Toca do Tatu contava o seguinte: Eu jogava no Britânia e, após as partidas, o time se reunia no Toca, cujo proprietário era o diretor do clube. Como o diretor não pagava pelas vitórias, servia para todo mundo a carne crua sobre fatias de broa. Então, um dia, o goleiro da equipe reclamou que nem onça comeria aquela carne. A partir daí, o nome pegou.
- Que legal essa história.
- E tem mais, Carne de Onça é um prato muito consumido na que é considerada cidade mais “Ecológica do Brasil”.
– O que é isto, cidade ecológica?
– Falo do meu querido e amado torrão natal. Falo dos parques e dos bosques, os grandes cartões-postais de minha cidade. Falo, com orgulho, de minha Curitiba, a “Cidade Verde”.
– Verdade?
– Claro, temos mais de trinta parques de vários tamanhos e belezas distintas. Dentro desses locais, de passeio e descanso, existem lagos que para o turista parecem decorativos, mas têm a função de segurar a água. Criatividade essa que é de grande ajuda para evitar alagamentos.
– O que isto tem a ver com a Carne de Onça?
– São três os pratos principais do povo da “Cidade Sorriso”: o barreado, o pinhão e a carne de onça.
– Interessante.
– Dona Conceição, a Carne de Onça é feita de carne bovina magra moída. No açougue, pede-se para tirarem nervos e gorduras.
Hoje, só digo que é para fazer a carne de onça, que o meu amigo açougueiro já sabe como deve me oferecer. Racapeta, é como a chamam no Brasil. Na Alemanha, é comida típica de verão, chamada Hackepeter.
Conceição, ansiosa que só vendo, perguntou quais os outros ingredientes.
– E o que mais se usa para preparar a carne de onça?
Analy quase estourou, mas, uma vez mais, aguentou firme lembrando da educação dada pela mãe e, com um sorriso amarelo, falou:
- Vai pimenta do reino, sal, azeite de oliva, cebola e cebolinha.
Como a minha sogra gosta muito de alho, faço uma parte com um pouco mais do que o necessário. É só misturar tudo, deixar descansar por cinco minutos e servir.
- Estou percebendo que você está viajando sozinha. É solteira?
- Não. Falando nisso lembrei do meu pai e do meu esposo. O papai gosta muito de beber conhaque e ia esquecendo que se coloca esse destilado do vinho na Carne de Onça.
- E todo mundo gosta?
- Até hoje o único que não gostou foi meu sogro, porque nem experimentou a comida preparada por mim.
– Que pena! Insista para ele provar.
– Sabe, Dona Conceição, acho que um dia eu vou fazer escondido dele e pedir para que ninguém diga o que é, só para ver ele apreciar essa refeição apetitosa.
Aroldo Arão de Medeiros
21/01/2021