Deixe a porta aberta
Eu cresci cercada por regras básicas de educação: um "bom dia", um "por favor", um "obrigada" e um "com licença" sempre prontos. Quando os mais velhos falavam, a ordem era não interromper. A resposta era sempre um respeitoso "Sim, senhora". E, ao encontrar meus avós, pedia a bênção com a mesma reverência.
Hoje em dia eu me pergunto: será que esses valores se perderam com o tempo ou será que eu estou velha e ultrapassada? No dia a dia, às vezes, parece que sim. O "bom dia" que ofereço ao motorista do ônibus quase nunca encontra resposta. Ele, coitado, parece exausto, talvez sobrecarregado com as contas a pagar e as noites mal dormidas. Eu mesma, na tentativa de compreender, crio desculpas pela indiferença. Mas será que isso justifica o silêncio?
Aos poucos, me pego hesitando em desejar-lhe um "dia incrível". No trabalho, a situação não é muito diferente. As pessoas estão mais centradas em suas próprias questões: o chefe, as reclamações, o cansaço. O foco é sair o mais rápido possível, sem olhar para o lado. Intrigas, fofocas e pouca produtividade. A gente sabe que vida é um caos, mas será que dá pra focar no que realmente importa e tratar o colega com respeito e atenção?
Eu sempre deixo a porta aberta por onde passo. Não dá pra agradar todo mundo, mas o singelo, o menor ato, eu faço. É a parte que me cabe. A gente nunca sabe quando voltará a ver aquela pessoa ou se um dia precisará dela... o mundo dá voltas.
Que nos atentemos a educação que tivemos na infância. Que não percamos os valores deixados por uma geração que soube viver sem internet e com louvor nos criou. Talvez a porta tenha se fechado um pouco entre nós, da geração Millenium e geração Cabeça baixa, e eu só espero que, de alguma forma, possamos deixá-la aberta novamente.
Mas, pensando bem, será que não está em nossas mãos essa reabertura? Um gesto, por menor que seja, para voltar a girar em suas dobradiças.
Às vezes, um sorriso, um "bom dia" ou até mesmo aquele "por favor" que parece esquecido pode ser o empurrão necessário para que as coisas voltem a fluir.
Eu me pergunto se, no fundo, o que falta não é apenas mais um pouco de gentileza genuína. Um olhar atento ao outro, mesmo que estejamos envolvidos nas nossas próprias batalhas diárias.
Ninguém precisa de grandes gestos para fazer a diferença. Talvez o motorista do ônibus, exausto, possa se sentir um pouco mais humano ao ouvir meu "bom dia" todos os dias. No trabalho, uma simples palavra de apoio pode transformar a relação com o colega que parece perdido nas queixas. E no fim do dia, quem sabe, esses pequenos gestos voltem para nós, em forma de reconexão e empatia.
Deixar a porta aberta, para mim, é isso: estar disponível, manter a esperança de que o outro perceba e, de algum jeito, corresponda. E, quem sabe, aos poucos, a frieza dos dias comece a dar lugar a algo mais acolhedor, algo que nos lembre que a educação, o respeito e a gentileza nunca saíram de moda. Elas só estão esperando para ser redescobertas.